Os grandes bancos brasileiros até têm interesse em lançar linhas de crédito para antecipar o saque do FGTS, que será permitido a partir de 2020 contando a data de aniversário do trabalhador. Mas primeiro querem saber as regras que a Caixa estabelecerá.
No ano passado, o governo permitiu o uso de FGTS para garantir crédito consignado, mas o produto não foi adiante por conta das tarifas cobradas pela Caixa, que administra as contas do FGTS, para liberar informações aos bancos.
O presidente do Bradesco, Octavio Lazari, explicou nesta quinta (26) durante teleconferência de resultados que o banco terá como avançar neste produto até pela sua presença por todo o país mas que a gestão do FGTS é da Caixa e esses dados não estão à disposição. "Dependendo de quanto a taxa for ajustada para bancos ter que pagar de tarifa, pode ficar caro no produto final", diz Lazari e assim o produto ficaria inviabilizado.
O governo anunciou a possibilidade de saque de até R$ 500 por conta inativa de cada trabalhador e a medida provisória permite ainda que o trabalhador use a possibilidade do saque como garantia para obter crédito. A expectativa é de que sejam liberados R$ 42 bilhões na economia.
A exemplo do Bradesco, o Banco do Brasil informou por meio de sua assessoria que tem interesse em estruturar uma linha, mas que vai esperar a regulamentação do Comitê Gestor do FGTS. O Itaú e o Santander disseram que estão avaliando a possibilidade de estruturar linhas para antecipação do FGTS.
Em tese, ao poder dar como garantia um valor tão seguro e certo como o saldo do FGTS, o trabalhador deveria ter acesso a linhas com os juros mais baixos do mercado. Mas não foi o que aconteceu no ano passado. Quando o governo Temer alardeou a possibilidade de se fazer empréstimo consignado dando como garantia o saldo do trabalhador no FGTS, o produto não deslanchou por conta da tarifa cobrada pela Caixa.
O banco estatal cobrava um valor mensal para as instituições acessarem o sistema e limitava o número de consultas por tarifa, elevando o custo do crédito. E quanto mais baixo o valor do crédito, mais elevada proporcionalmente ficava a tarifa. Dado o baixo valor liberado agora pelo governo, se a Caixa cobrar tarifas elevadas não será possível oferecer o produto a taxas competitivas.
Até o fechamento desta reportagem, a Caixa não havia se manifestado.
Financiamento - Os saques anuais do FGTS não devem prejudicar o financiamento imobiliário, diz a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
"De forma geral é absolutamente positiva [a mudança do FGTS], conta com o total apoio da Abecip. Do ponto de vista de liberação de saldos, estamos falando de um pouco menos de 10% do total", disse o presidente da Abecip, Gilberto Duarte de Abreu Filho, em coletiva da associação nesta quinta-feira (25).
Segundo ele, os saques anuais não comprometem a dinâmica do fundo. "Mesmo que você esteja sacando, durante todo o período em que você está trabalhando, você continua contribuindo, e o fundo continua sendo oxigenado. Então o dinheiro que está disponível no fundo para o financiamento imobiliário continua disponível", disse.
Ele afirmou que a primeira etapa de saques, que terá início em 2019, também não deve afetar o planejamento.
"Para a construção civil, não muda nada", afirmou. Segundo Abreu Filho, o novo modelo dá mais opções para o trabalhador, o que é positivo, além de estimular a economia.
"Para as pessoas que vão receber o dinheiro, faz muita diferença. São dívidas que vão ser reduzidas, o que permite que as pessoas voltem a consumir. Então, sem comprometer o dinheiro da construção civil, você consegue gerar atividade econômica, o que no fundo também gera benefícios para o nosso próprio setor", afirmou.