A demanda de empresas aquém do esperado tende a adiar altas mais significativas no crédito imobiliário para 2019. O mercado, porém, deve sentir os reflexos positivos advindos dos fundos imobiliários, que terão maior busca e novas ofertas em 2018.
A leve alta do setor puxada pelo financiamento à aquisição - aumento de 2,9% nos empréstimos para pessoa física em outubro contra igual mês de 2016, de R$ 6,044 bilhões para R$ 6,224 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC) - tem redirecionado as perspectivas para o crescimento do mercado.
De um lado, a taxa básica de juros (Selic) a 7,5% - e com projeção de alcançar os 7% ainda este ano - reflete em uma expectativa bem otimista para o crédito imobiliário ao consumidor, que já sente redução de 1,8 ponto percentual nos juros (de 10% em outubro de 2016 para 8,2% no mês passado).
Da outra ponta, a demora na retomada somada às incertezas sobre o cenário macroeconômico e político do País no próximo ano , ainda deixa empresários e consumidores com um pé atrás.
"Isso tem feito o mercado crescer aquém do esperado. Quando olhamos as curvas de expectativas, os juros futuros ainda estão perto de 11%, o que é muito caro para um segmento cuja decisão é de longo prazo", explica o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto de Abreu.
Ainda segundo dados do BC, o financiamento imobiliário para empresas caiu 41,9% na comparação de outubro deste mês com igual intervalo do ano passado, de R$ 1,195 bilhões para R$ 694 milhões.
"O lado de construção ainda está muito deprimido, sem reagir como deveria ter reagido. Isso é natural com o estoque que temos no mercado. O crédito do setor não deve passar de um aumento entre 2% a 5% ao ano", acrescenta Abreu.
Alta dos preços - Na mesma linha, os últimos dados da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic), por exemplo, apontam que de janeiro a setembro deste ano o lançamento de imóveis recuou 8,6%, para 39.579 unidades, com relação a iguais nove meses de 2016, enquanto as vendas caíram 1,5% no período (para 58.427 unidades).
"Não é um processo de recuperação que acontece de um dia para o outro, mas com o volume de demanda que existe no mercado, a expectativa é que em algum momento gere um descasamento entre oferta e procure e isso comece um novo ciclo de valorização", afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis de São Paulo (Secovi-SP), Flavio Amary.
Para o professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) Silvio Paixão, no entanto, caso esse cenário continue, o movimento do mercado imobiliário pode piorar. "A renda no Brasil ainda está muito baixa e entrar em um empréstimo de 20 anos é muito delicado. No andar da carruagem, não vejo isso mudando por, no mínimo, três anos", opina.
Oportunidades - Ao mesmo tempo, os executivos consultados pelo DCI ponderam os reflexos positivos dos Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs), produtos de renda variável em que cada investidor adquire cotas cujo valor é utilizado na compra de imóveis, por exemplo.
"Com juros mais baixos e retomada gradual da economia, o segmento de escritórios comerciais, por exemplo, deve se destacar nos fundos e, no geral, já há uma forte busca pelos FIIs", avalia o economista-chefe da Rico, Roberto Indech.
Segundo o analista da Genial Investimentos Caimi Reis, com forte desempenho neste ano, os preços dos fundos ainda estão "deprimidos" e compõem uma grande oportunidade. "Já vemos várias ofertas protocoladas que devem vir em 2018. Temos uma aposta bastante otimista", comenta.