Aline Oyamada
O volume de crédito imobiliário deve recuar 20,6% neste ano, para R$ 60 bilhões, segundo estimativa da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgada nesta terça-feira. Em 2015, esses financiamentos totalizaram R$ 75,6 bilhões, volume já 33% menor que o registrado em 2014.
Apenas no mês de dezembro, os empréstimos para aquisição e construção de imóveis somaram R$ 4,8 bilhões, o que representou uma queda de 55,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior mas alta de 16,5% em relação a novembro. Dezembro foi o primeiro mês de crescimento no crédito imobiliário nesse tipo de comparação, após quatro meses de quedas.
Em unidades, foram financiados 341,5 mil imóveis em 2015, número 36,6% menor que em 2014. Considerando apenas o mês de dezembro, as unidades financiadas somaram 21,9 mil.
Confiança - Para Gilberto Abreu, presidente da Abecip, o crédito imobiliário deve continuar sendo afetado pela baixa confiança do consumidor em 2016 e o mercado deve seguir em um ajuste.
"Temos um contexto macroeconômico muito mais desafiador. 2015 foi o primeiro ano de ajuste e em 2016 isso deve continuar", afirmou a jornalistas. Abreu lembrou que o mercado de financiamento imobiliário precisa de inflação e juros baixos para crescer, fatores que não estão presentes no atual cenário econômico. "O crédito como um todo hoje é menos promotor do crescimento", disse.
Do lado da demanda, o principal entrave à expansão do crédito imobiliário é a confiança do consumidor, que agora está muito mais reticente. "Comprar imóvel demanda confiança. É, provavelmente, a principal aquisição que as pessoas vão fazer ao longo da vida", disse Abreu.
Abreu também afirmou que as incorporadoras estão reduzindo a oferta de unidades, o que é uma boa notícia para o setor. "Viemos de um momento de euforia dos consumidores em 2012 e o fato de as incorporadoras estarem lançando menos, reduzindo seus estoques, é boa notícia. Esse é um momento de ajuste, de transição.” Para superar a demanda mais fraca, a indústria da construção civil precisará se ajustar, intensificando as atividades promocionais e buscando um novo patamar de produção que se adeque a essa realidade, segundo ele.
Esses ajustes devem provocar reduções pontuais nos preços dos imóveis, mas Abreu não vê uma queda significativa, já que a tendência é que os proprietários não vendam seus imóveis por um preço que não julguem justo — o que se traduzirá em menor volume de vendas.
A Abecip, segundo Abreu, está criando um novo indicador de preços de imóveis que levará em consideração características dos imóveis que hoje não são abarcadas pelos indicadores do mercado. "Temos informações de financiamentos, da análise de crédito dos bancos. Vamos equalizar pelo tamanho do imóvel, região, número de quartos etc. E vamos ter uma A Abecip, segundo Abreu, está criando um novo indicador de preços de imóveis que levará em consideração características dos imóveis que hoje não são abarcadas pelos indicadores do mercado. "Temos informações de financiamentos, da análise de crédito dos bancos. Vamos equalizar pelo tamanho do imóvel, região, número de quartos etc. E vamos ter uma visibilidade muito melhor do que está acontecendo", disse.
Nesse contexto, o mercado de imóveis usados deve continuar sendo o mais impactado. Em 2015, o crédito financiado pela poupança destinado à compra de imóveis usados caiu 50%, para R$ 23,1 bilhões. Os financiamentos de unidades novas recuou 10%, para R$ 31,7 bilhões.
O lado positivo do mercado imobiliário brasileiro é que ainda há grande espaço para expansão. Abreu lembra que 18% dos domicílios ainda são alugados, há um déficit habitacional equivalente a R$ 5,8 bilhões e o país passa por um bônus demográfico, com crescimento da população adulta que cria uma demanda potencial para o crédito imobiliário. "Isso vai empurrar a demanda por imóveis", estimou.