Com os bancos seguindo a curva de redução da taxa básica de juros (Selic), pelo menos no crédito imobiliário, o número de mutuários que estão aproveitando o ciclo para rever o custo do seu financiamento da casa própria através da portabilidade bancária tem aumentado. No comparativo do mês de agosto de 2019 (último dado disponível) com o mesmo mês do ano passado, o número de operações de portabilidade efetivamente realizadas cresceu 83%, saltando de 212 para 388 operações que representam um volume de R$ 145 milhões. Mesmo assim, o montante ainda é pouco diante do universo de crédito imobiliário. Este ano, enquanto, segundo a Abecip, os financiamentos movimentaram R$ 47 bilhões até agosto, a portabilidade foi responsável por pouco mais de R$ 600 milhões.
Boa oportunidade para quem quer reduzir o custo do financiamento da casa própria, a portabilidade tem se tornado a nova trincheira dos bancos na busca por ampliação da carteira imobiliária. Já em meio a um “guerra” interbancária nos juros cobrados a novos clientes, as entidades agora despertaram para a atração daqueles que já estão dentro desse mercado e podem se tornar um novo ativo na carteira imobiliária.
“O mercado sempre teve mais demanda do que oferta de crédito a maior parte do tempo. Agora, o mercado está muito ofertado e o consumidor, que ainda está vendo a renda parada e um mercado de trabalho incerto, está mais cauteloso. A portabilidade vive um momento favorável. Quem contratou com taxas maiores hoje pode buscar alternativas de menor custo”, acredita o presidente da Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Duarte.
A portabilidade em si, na verdade, ainda é algo novo para os clientes brasileiros, que ainda desconhecem muito da operação e mantêm uma certa cautela na hora de trocar de credor. De acordo com dados do Banco Central, nos primeiros oito meses deste ano, foram realizados 6 mil pedidos, sendo apenas 1,6 mil efetivados. No ano passado, foram feitas 3,4 mil solicitações aos bancos, com concretização de 794. Já em 2017, os bancos registraram 248 pedidos de portabilidade, mas só foi dado andamento a um total de 26 operações.
Condições - “Tem mais gente buscando. O momento de fato é bom para quem quer renegociar a taxa cobrada porque há mais concorrência entre os bancos. A gente pode esperar mais queda de juros e, consequentemente, mais pessoas buscando pela portabilidade até o ano que vem”, avalia o cofundador do site comparativo Melhor Taxa, Rafael Sasso. Parceiro das instituições bancárias, o comparativo chega a receber ao dia 300 propostas de simulações de portabilidade, que são feitas gratuitamente. Os interessados cadastram informações relevantes ao perfil de crédito e o site aponta as condições de cada entidade, deixando a cargo do cliente a escolha.
“O mais importante é entender os prazos e custos. O processo de portabilidade chega a custar, em média, R$ 4 mil, porque envolve pagamento de avaliação do imóvel e custos de cartório e garantias a depender de cada banco. Além disso, o processo ainda é moroso. Alguns bancos estão tentando deixar mais rápido, mas vai de 15 a 20 dias, dependendo muito do cliente e da instituição”, garante Sasso.
Para fazer a portabilidade, o mutuário precisar pedir para o banco que concedeu o empréstimo as informações atualizadas sobre saldo devedor e as taxas contratadas, o que deve ser feito pela instituição em até 1 dia útil. O cliente então deve levar as informações do contrato para o outro banco que deseja transferir a dívida por juros mais baixos. Nesse meio tempo, o banco de origem pode fazer uma contraproposta, que pode ou não ser aceita pelo cliente.
“O banco que está sendo atacado, ele tende a fazer uma renegociação. Do outro lado da moeda, o cliente começa o processo, de documentação, de custo com outra instituição, e por isso muitas vezes o processo de portabilidade não é concluído. Mas por via de regra, para muitos clientes vale a pena”, pontua o presidente da Abecip. Nas simulações da Melhor Taxa, num financiamento de R$ 500 mil, com taxas de juros de 10,77%, a portabilidade para uma instituição que cobra 7,3% de juros pode garantir uma economia de R$ 196 mil ao contrato, lembrando que é sempre importante levar em conta o Custo Efetivo Total (CET) do financiamento.