São Paulo - A possível regulamentação da Letra Imobiliária Garantida (LIG) neste ano e a esperança de uma queda de juros adiante geram expectativas positivas para o crédito imobiliário. Apesar do recuo de 34% esperado para 2016, especialistas projetam retomada em 2017.
Em discussão desde 2015, quando oficializada pela Lei 13.097, a LIG aparece como funding complementar para o segmento, e se constitui como uma dívida de emissor, alicerçada por garantias para estas emissões.
Questionado pelo DCI durante coletiva realizada ontem, o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Duarte de Abreu Filho, afirmou que a expectativa é de que o título privado seja um "instrumento de reativação da economia" e que já esteja regulamentado e implantado até o final de 2016.
"Atualmente, há um excesso de dinheiro no mundo e, caso as políticas econômicas se materializem, pode vir muito capital estrangeiro para tentar capturar os patamares de juros que nós temos hoje, no Brasil. A discussão com o Banco Central é de que essa pode ser, inclusive, uma ferramenta para ativar a economia e recomeçar um ciclo positivo", comenta.
O setor já conta com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), voltado para um público de menor renda e responsável por R$ 380 bilhões das captações, além das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), de R$ 189 bilhões e R$ 65 bilhões das captações, respectivamente, e que também respondem por 1/4 do financiamento do mercado.
"Esses papéis são alternativas, mas estão mais caros por conta da alta taxa básica de juros [Selic]. O mercado, portanto, acaba pressionado porque, quando os bancos precisam acessar esses recursos para o financiamento, pagam mais caro e repassam esse custo para o consumidor", diz Gilberto.
Apesar dos empréstimos com recursos da poupança terem caído pela metade no primeiro semestre desse ano em relação a igual período de 2015 (de R$ 44,8 bilhões para R$ 22,6 bilhões), o volume liberado por parte do FGTS continua em um ritmo de crescimento, com alta de 1,3% na mesma base de comparação.
De acordo com o presidente da Abecip, no entanto, o total semestral de habitações financiadas ainda é importante porque apesar de "representar um mix de imóveis, o número de unidades não caiu tanto".
"Estamos em um momento de mudança de perfil de habitação, onde há uma produção popular muito maior e uma queda nas unidades com perfil de classe média e custo maior", complementa o executivo.
A inadimplência do setor está estável, a 1,9%, e a expectativa é que o crescimento do crédito imobiliário no acumulado de 2016 seja 34% menor do que o visto em 2015 (de R$ 76 bilhões para R$ 50 bilhões).
A porcentagem ainda representa uma piora nas projeções dadas pela própria associação em janeiro, quando previa que este ano fechasse aos R$ 60 bilhões, queda de 20,6% em relação ao ano passado.
Juros de longo prazo - Ainda segundo o presidente da Abecip, além da melhora nos índices de confiança no País, a inversão da curva de juros de longo prazo, precificada e tida como base pelo mercado, também será um dos fatores que impulsionará o setor em 2017.
"O fato dessa parte do dinheiro ter captado esse custo impactou muito os preços do mercado, mas 2017 já aparenta ser melhor. Dificilmente chegaremos aos patamares anteriores, mas essa mudança de expectativa para horizontes mais favoráveis já faz com que os agentes econômicos trilhem rumos diferentes", destaca Gilberto Abreu Filho.
O executivo da Abecip ainda comenta que, quando os juros alcançarem níveis inferiores a 10,5%, a poupança voltará a ser competitiva. "Isso deve acontecer em 2017 e, caso as medidas se concretizem, é capaz até mesmo de as taxas de longo prazo caírem antes da Selic, trazendo dinheiro farto e barato para o mercado", completa o presidente.
Segundo Luiz Antonio França, sócio-presidente da França Participações, no entanto, ainda é preciso maior reforço do mercado para o número crescente de distratos [contrato que extingue obrigações de acordos anteriores].
"Apesar dos incorporadores estarem trabalhando para zerar seus estoques, isso ainda tem acontecido em 40% dos casos, com consumidores desistindo de suas unidades. É um ciclo que precisará ser fechado ainda esse ano para um 2017 mais forte", concluiu.