A Avenida Paulista, que já foi símbolo do corporativismo paulistano, hoje reflete mudanças no cenário urbano e profissional. Fundada em 1891, seu desenho foi baseado nas grandes avenidas europeias e, a partir da década de 1950, passou a abrigar as sedes de vários bancos e empresas multinacionais. A diversificação dos usos da Paulista, com mais espaço para lazer e cultura, no entanto, tem contribuído para alterar a dinâmica vista na avenida na virada do milênio. Essas transformações mostram como o ambiente de trabalho e o perfil dos grandes centros urbanos têm evoluído.
A região da Avenida Doutor Chucri Zaidan, por exemplo, impulsionou o crescimento do mercado de escritórios da cidade de São Paulo, com a absorção líquida de quase 24 mil metros quadrados no quarto trimestre de 2024. O valor é mais que o dobro da segunda colocada, a Avenida Brigadeiro Faria Lima.
No quarto trimestre de 2024, a capital registrou uma absorção líquida de 43,9 mil metros quadrados – a maior do ano. Os dados constam no relatório MarketBeat São Paulo, da consultoria imobiliária Cushman& Wakefield, divulgados com exclusividade pela EXAME.
Enquanto a avenida localizada no Brooklyn está em claro crescimento, a tradicional Avenida Paulista amargou uma absorção líquida negativa no quarto trimestre. Isso significa que imóveis corporativos mais saíram do que entram no período no que já foi considerado o coração de São Paulo.
No ano inteiro de 2024, a Paulista observou uma absorção líquida de 4,7 mil metros quadrados. Enquanto isso, a Chucri Zaidan teve absorção líquida de 56,3 mil metros quadrados.
"A Paulista manteve um perfil multiúso, enquanto a Faria Lima concentrada cada vez mais em serviços e escritórios. Com a demanda por espaços corporativos cada vez mais modernos e espaçosos, a Avenida Paulista foi perdendo terreno não apenas para a Faria Lima, como também para novas regiões na zona sul", diz Dennys Andrade, Head of Market Research & Business Intelligence da Cushman & Wakefield.
Seja pela idade dos imóveis ou pela falta de terrenos disponíveis, a oferta de novos ativos na avenida é muito baixa, recebendo o último lançamento em 2021 e estando com um total de zero construções em andamento no quarto trimestre de 2024. Para efeitos de comparação, na Chucri Zaidan, mais de 112 mil metros quadrados estavam em construção no mesmo período, contra zero na Faria Lima.
Apesar dos imóveis considerados antigos e de estar fora do radar dos grandes negócios imobiliários corporativos, a famosa Paulista ainda atrai múltiplos inquilinos, o que explica a sua baixíssima vacância, de apenas 2,9%, e um preço por metro quadrado dentro da média da cidade. A pouca disponibilidade e falta de espaço para novos lançamentos, no entanto, explicam a queda consecutiva na absorção anual, de 8.028 metros quadrados em 2023 para a metade disto em 2024, com apenas 4.754 metros quadrados.
Situação do mercado imobiliário corporativo
De forma geral, houve uma expressiva absorção líquida não só no último trimestre de 2024, como também nos trimestres anteriores do ano. De acordo com analistas da Cushman & Wakefield, o cenário reflete o aquecimento do mercado imobiliário mesmo diante de incertezas
econômicas.
O cenário positivo, junto à entrega de novo estoque ao longo de 2024, resultou em uma redução significativa da taxa de vacância, que atingiu 17,35%, uma dos menores níveis dos últimos anos. Isso representa queda de 2,76 pontos percentuais em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Por outro lado, a região da Chácara Santo Antônio registrou a maior taxa de vacância da cidade, com 48,16%, seguida pelo Itaim, com 43,64%, e pela Marginal Pinheiros, com 39,46%.