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26/08/2022

'O mundo que vai desinflar é um mundo que ajuda o setor imobiliário', diz economista-chefe do Bradesco (Valor Econômico)

No Abecip Summit, Fernando Honorato afirma que o segundo semestre de 2023 pode ter uma combinação de queda de custos de construção, com inflação mais controlada, retomada da atividade e a possibilidade de os juros começarem a recuar

 

O cenário macroeconômico em 2023 tende a ser mais positivo para o setor de crédito imobiliário a partir do segundo semestre, avaliou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, durante o Abecip Summit. Segundo o profissional, a segunda metade do próximo ano pode ter uma combinação de queda de custos de construção, com inflação mais controlada, retomada da atividade e a possibilidade de os juros começarem a recuar.

 

"Se por um lado a demanda pode desacelerar um pouco em 2023,as pressões de custos tendem a se reduzir", afirmou. "O mundo que vai desinflar é um mundo que ajuda o setor imobiliário", acrescentou.

Na visão do economista, "a inflação atual no mundo deriva dos excessos [de incentivos monetários e fiscais] que foram cometidos durante a pandemia". Para Honorato, "é uma inflação de demanda".

 

Os bancos centrais no mundo estão promovendo "um ajuste sincronizado de aumento de juros", disse. “Com isso, o custo de dinheiro vai ficar mais alto no mundo e o setor imobiliário nos EUA já está sentido isso." Porém, "com juros altos, as empresas sólidas e os ativos reais têm muito mais a entregar em termos de valor de mercado". No próximo ano, com a desaceleração da atividade no mundo, a “inflação tende a arrefecer e a economia global vai estar flertando com o limiar da recessão".

Ainda de acordo com o economista, apesar da percepção que há um componente forte de oferta nas pressões inflacionárias, com disrupções nas cadeias de produção, os dados mostram que, na verdade, a questão da demanda é predominante entre os fatores. Honorato citou a situação da indústria de semicondutores.

 

"Todo mundo já leu ou ouviu que há problemas de abastecimetno desses componentes o que acarreta em problemas para, por exemplo, fabricar automóveis. Mas os números mostram que a produção de semicondutores no mundo está muito acima do pré-pandemia, então o que aconteceu é que a demanda se deslocou [para bens que usam os componentes]."

 

Conforme o especialista, "a parte que começa a ser positiva desse quadro [de alta de juros global] é que a pressão gigantesca em termos de custos começa a aliviar", com o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) e vários indicadores de preços caindo.

O economista-chefe do Bradesco pontuou que "a economia global começou a se ajustar, e vemos o indicador de encomenda sobre estoque indo para baixo e o índice de problemas nas cadeias de suprimentos recuando também". Em uma visão de longo prazo, o setor imobiliário também tende a se beneficiar do realinhamento de cadeias impulsionado pelos fatores geopolíticos.

 

"Até a pandemia e a guerra da Ucrânia, a lógica era de custos, ou seja, as empresas buscavam onde se produzia mais barato. O que a guerra e a pandemia ensinaram é que tem de pensar na sobrevivência do negócio antes de pensar nos custos."

Dentro dessa perspectiva, "o Brasil está sendo percebido no mundo como país seguro e vai atrair o foco dos investidores globais quando as incertezas forem reduzidas e o setor imobiliário pode capturar negócios importantes".  

FONTE: VALOR ECONôMICO