Fundada nos anos 1970 pelo engenheiro civil Ézaro Fabian, em Londrina (PR), a Plaenge Empreendimentos tornou-se a maior incorporadora de capital fechado do Brasil. Com atuação em nove cidades e seis estados no país, além do Chile, fechou 2024 com 33 lançamentos e VGV de R$ 4,1 bilhões: alta de 41% e 14%, respectivamente, em relação a 2023. No comando da companhia estão os filhos do fundador, Fernando e Alexandre — que comenta a entrada da empresa no mercado de altíssimo padrão mais concorrido do país: o de São Paulo.
A Plaenge acabou de lançar um residencial de luxo em São Paulo. Qual a estratégia para a cidade?
Alexandre Fabian — O Etmo Jardins é nosso segundo projeto na capital paulista, com VGV de R$ 500 milhões, o maior da história da empresa. Nosso plano é de crescimento orgânico, lançando um ou dois empreendimentos por ano na cidade. O mercado imobiliário é muito local, cada lugar tem uma história diferente, e a de São Paulo é bem específica.
Em que sentido?
Os terrenos são mais caros, há restrições de horário de construção que outras cidades não têm, e a concorrência é maior, mas, por outro lado, a demanda é muito grande. Ainda estamos aprendendo sobre o mercado local. Vamos seguir fazendo projeto a projeto, de forma artesanal, com crescimento bem pé no chão.
Que leitura faz do comprador paulistano?
O público de São Paulo é muito diverso, são muitas cidades dentro de uma só: cada bairro tem um perfil de consumidor diferente, com renda maior ou menor, patrimônio mais antigo ou mais novo. No caso dos Jardins, é um comprador bem exigente quanto à qualidade dos projetos, conhece o que tem de melhor no mundo e busca um luxo mais silencioso e não de ostentação. Quando ele reconhece a qualidade, está disposto a pagar por isso.
Ser “outsider” em terras paulistanas é mais fácil ou difícil?
As duas coisas: dificuldade de ser uma marca ainda não muito conhecida pelo cliente local, o que, por outro lado, nos permite trazer um olhar de fora, mais fresco, sem os vícios do que já vem sendo feito. Nosso projeto nos Jardins teve elogios de quatro players locais por conta de trazer algo diferente para o mercado. Surpreender é bom, pode ser uma vantagem.
Neste sentido, qual a estratégia para surpreender?
No sul do país existe a tradição do artesanal, do conhecimento técnico profundo sobre certas atividades que são transmitidas através de gerações. E a clientela sulista é muito atenta aos detalhes, gosta de tudo feito com muito capricho. Nós ficamos conhecidos em outras praças em que atuamos por fazer projetos assim: sofisticados, com qualidade construtiva e preocupação com os detalhes. É isso que estamos trazendo para São Paulo. Em 54 anos de história, aprendemos a entender a expectativa de cada cliente. Não é uma pessoa que está comprando um apartamento pelo valor do metro quadrado, mas alguém com condições de morar em qualquer lugar e que escolheu aquele produto.
O fato de ser uma marca consolidada no Sul e Centro-Oeste ajuda na captação de clientes em São Paulo?
As regiões Sul e Centro-Oeste são pujantes em crescimento, com nível de sofisticação no varejo, nos restaurantes e nos negócios. O interior do país tem gerado muita riqueza, sobretudo pelo agronegócio. E muita gente desses lugares tem alguma ligação com São Paulo e precisa de um apartamento na cidade. Isso tornou-se um vetor de sucesso dos nossos negócios aqui. São Paulo é uma cidade realmente nacional. Quando começamos a lançar produtos na cidade, percebemos o interesse muito grande de clientes de outras praças em comprar imóveis aqui para ter como uma base — seja por conta de negócios, filhos estudando na cidade ou outros motivos pessoais.
No projeto de Moema, por exemplo, abrimos as vendas onde já atuávamos em um dia às 10h, e às 16h todos os estúdios já estavam vendidos a preços superiores à média do bairro na época. A Plaenge virou uma espécie de embaixada dessas outras regiões do Brasil na capital paulista.
A Plange completou 15 anos atuando no Chile. Como começou essa história?
Pelo México. Em 2006, fizemos uma viagem ao país a convite de um banco, para conhecer o mercado local. E criamos uma relação forte com uma construtora chilena que estava presente ao encontro. Durante a crise de 2008, que foi muito mais forte no Chile do que no Brasil, essa empresa ficou sem financiamento e nos ofereceu sua carteira de projetos. Adquirimos com o intuito de aprender sobre o mercado local. Fomos construindo, validando as premissas e conhecendo o ciclo todo. Dois anos depois, já tínhamos segurança para dar passos maiores. Compramos o primeiro terreno para um prédio de 16 andares e demos sequência a outros projetos grandes. Hoje, já fizemos mais de 40 projetos lá.
Por fim, em 2023, lançamos a primeira das sete torres do Distrito Paulista, nosso primeiro empreendimento na capital, Santiago. Um complexo residencial com praça central, localizado na Cidade Empresarial e próximo a bairros mais sofisticados: Las Condes e Vitacura. A torre inaugural já está com mais de 55% das unidades vendidas.
Por que o nome “Distrito Paulista”?
Distrito é o equivalente nosso para “Reserva”: distingue um produto como superior. E Paulista porque São Paulo é uma referência positiva para eles. Os chilenos adoram o Brasil, até mais do que a gente mesmo.
Planos para 2025?
Para São Paulo, teremos um novo empreendimento em Moema, com apartamentos na faixa dos 150 metros quadrados. E estamos prospectando terrenos na cidade. Em Campinas, uma unidade de negócios relativamente nova, faremos uma sede com escritório e uma grande loja para receber os decorados. Teremos nova também em Curitiba, agora entre os bairros do Batel e Ecoville.
Em termos de volume, os números deverão ser bem parecidos com 2024: pouco mais de 30 novos produtos e R$ 4 bilhões em VGV.
Está otimista para o ano que começa?
É uma questão interessante. A turma do mercado financeiro acha que a taxa de juros alta vai complicar o setor. Mas os juros já estão altos, e o mercado imobiliário tem ido bem. Tem a questão da riqueza do agro, que fortalece o interior do Brasil, e a mudança na pirâmide etária: mais pessoas na faixa de 30 a 40 anos, formando família e comprando imóveis. Além disso, a pandemia estimulou nas pessoas o desejo por mais qualidade de vida na moradia. Então, tudo o que eu leio sobre o mercado de capitais, não é o que eu sinto na ponta do mercado imobiliário. Tem algo desconexo aí, nem sempre as coisas batem.