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16/02/2016

A queda do mercado acionário e a economia real

A forte baixa dos preços das ações neste ano suscita preocupações com a perda de riqueza e queda da confiança dos consumidores, o que, em tese, agiria como fator de contenção da atividade econômica. Mas, na opinião da consultoria Capital Economics, seria provavelmente necessário perdas mais acentuadas - ou uma desaceleração no setor imobiliário - para impacto ser significativo sobre a economia real.

A forte baixa dos preços das ações neste ano suscita preocupações com a perda de riqueza e queda da confiança dos consumidores, o que, em tese, agiria como fator de contenção da atividade econômica. Mas, na opinião da consultoria Capital Economics, seria provavelmente necessário perdas mais acentuadas - ou uma desaceleração no setor imobiliário - para impacto ser significativo sobre a economia real.

Quando se observa o tamanho das perdas acumuladas neste ano, há, sem dúvida, um movimento significativo. Até sexta, o índice MSCI World de preços de ações em economias desenvolvidas tinha perda de 11% no ano - ontem, os mercados europeu e asiático tiveram um dia de recuperação. 

Perdas maiores estão acontecendo na zona do euro e no Japão, e menos nos EUA. Dada a conhecida correlação entre o consumo das famílias (e a poupança) com a performance dos preços nominais das ações nas economias avançadas, é natural imaginar que o PIB destes países possa ser afetado, uma vez mantido tal sentimento pessimista nos mercados. Entretanto, a Capital analisa três fatores que podem atenuar o "efeito-riqueza negativo" do solavanco atual.

Em primeiro lugar, "quedas dos preços das ações que não tenham sido causadas por uma recessão econômica não conduzem necessariamente a um declínio acentuado do consumo", diz Andrew Kenningham, economista-sênior de mercados globais da consultoria. 

Kenningham dá como exemplo a queda de 23% do MSCI quando do estouro da bolha das empresas "pontocom" em 2001. Naquele ano, o consumo se manteve resiliente, crescendo 2%. Talvez seja este o caso agora, já que não há sinais contundentes de recessão global, mas sim de perda de ímpeto em algumas economias desenvolvidas. 

Outro fator é que o "sell-off" (venda generalizada) recente está acontecendo em países menos expostos ao mercado de ações. Nos EUA, o melhor exemplo, a exposição das famílias a este mercado é duas vezes maior do que na zona do euro e quatro vezes maior do que no Japão. Ademais, ainda com toda a perda nestas regiões, os preços ainda estão bem acima da baixa pronunciada ocorrida em 2013.

O último ponto é que a confiança do consumidor não desabou, ao menos até agora. É fato que nos EUA, a última pesquisa, divulgada na sexta-feira, mostrou queda em fevereiro, "mas ainda é consistente com o crescimento de cerca de 3,0% no consumo", pondera o economista. 

Na zona do euro também houve recuo, mas pouco pronunciado. No Japão ainda não houve inversão do sentimento, tampouco no Reino Unido. 

Estes fatores são explicativos para um cenário com desdobramentos positivos, mas é cedo para bater o martelo. Os mercados podem continuar a cair por semanas o que, naturalmente, mudaria esta percepção para pior. E pior mesmo seria observar uma contaminação para os mercados imobiliários, o que afeta de forma mais disseminada as finanças das famílias e, por consequência, a confiança das empresas, culminando em redução de investimentos.

Não se pode ignorar também a possibilidade de uma "profecia autorrealizável" se o pessimismo persistir entre os investidores, especialmente se o setor bancário continuar a balançar. 

FONTE: VALOR ECONôMICO