Por ser um segmento intensivo em mão de obra, a construção civil pode ter um papel significativo na redução do desemprego, um dos grandes desafios do país. Se o setor vai bem, a tendência é de que absorva mais trabalhadores, em grande parte de estratos sociais que hoje sofrem mais com as dificuldades de colocação. Embora não faltem incertezas no horizonte, é reconfortante observar o crescimento no número de lançamentos de empreendimentos imobiliários, o que significa necessidade de contratações ou manutenção de pessoal nos canteiros de obras nos próximos meses, além de demanda na extensa cadeia de insumos e serviços ligada à atividade.
Em Porto Alegre, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS), a quantidade de lançamentos em 2021 subiu 19% em relação a 2020. O resultado vai em linha com o desempenho nacional. Conforme a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no país a alta foi de 26%. O reflexo apareceu na abertura de vagas. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Rio Grande do Sul o saldo foi positivo em 5,2 mil postos. Em todo o Brasil, o comportamento foi ainda mais animador, com a criação de 244,7 mil empregos com carteira assinada.
Sabe-se que a construção civil foi beneficiada especialmente pelos juros em patamares historicamente baixos que prevaleceram até meados do ano passado. A alta da Selic pelo Banco Central no decorrer de 2021 devido ao recrudescimento da inflação tende a dificultar os negócios em 2022. Mesmo assim, o setor teve um resultado altamente satisfatório. Os dados do PIB, divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que a construção civil no país avançou 9,7%, compensando com boa margem a retração de 6,4% de 2020. Foi o maior crescimento registrado desde 2010. É preciso ressaltar ainda que, a despeito da economia letárgica nos últimos anos e do baque da pandemia, foi o quarto exercício seguido de saldo positivo da construção civil quanto à criação de postos de trabalho.
A demanda por imóveis residenciais, no entanto, ainda se mostra muito concentrada em unidades de maior valor. A situação geral do país em relação a emprego, ganhos da população, inflação e juro dificulta a venda nos segmentos de menor renda, onde se concentra o déficit habitacional. O aumento dos custos do setor, que deve se acentuar com os reflexos da guerra no Leste Europeu, traz dificuldades extras. As projeções da CBIC indicam um 2022 ainda de crescimento da atividade e nos empregos, mas em um ritmo mais modesto.
Apesar do bom desempenho do ano passado, a construção civil ainda está em níveis de atividade abaixo dos verificados até meados da década passada. Uma recuperação consistente e disseminada do setor ainda depende do reerguimento mais robusto dos demais setores da economia, elevando a confiança para que indivíduos das classes médias assumam compromissos de longo prazo, além da melhora dos indicadores que influenciam nos custos e condições de financiamento. Isso vale, inclusive, para os programas oficiais de habitação popular. Por enquanto, resta esperar que desanuvie o horizonte nublado dos cenários doméstico e internacional.
(Matéria publicada em 08/03/2022)