Notícias

15/03/2016

Agências de rating exibem resultados robustos

A imensa maioria dos investidores ainda depende da Standard & Poors, Moodys Investors Service e Fitch Ratings para decidir se compram ou não títulos de dívida. As três agências emitem mais de 95% das classificações de bônus no mundo todo, uma proporção praticamente igual ao do período anterior à crise de 2008.

Timothy W. Martin

As três grandes agências de classificação de risco de crédito, que tanta participação tiveram na última crise financeira, nunca foram, elas próprias, rebaixadas.

A imensa maioria dos investidores ainda depende da Standard & Poors, Moodys Investors Service e Fitch Ratings para decidir se compram ou não títulos de dívida. As três agências emitem mais de 95% das classificações de bônus no mundo todo, uma proporção praticamente igual ao do período anterior à crise de 2008.

Seus lucros também estão próximos do recorde, num momento em que se beneficiam de uma onda de emissões de dívida e se expandem em novas linhas de negócios.

A resistência dessas grandes agências foi mais uma vez demonstrada nesta semana, quando a Moodys, uma unidade da Moodys Corp., fez um acordo de US$ 130 milhões para encerrar uma ação movida por um fundo de pensão da Califórnia. O pacto resolveu um dos últimos problemas legais remanescentes da crise e elevou o total de multas e acordos pagos para US$ 1,9 bilhão, uma fração do montante desembolsado pelos bancos americanos em processos ligados ao mesmo período.

"As agências de classificação de crédito escaparam com tanta facilidade, considerando o que elas fizeram", diz Marcus Stanley, diretor de políticas da coalizão apartidária Americanos pela Reforma Financeira, que defende uma regulação mais forte de Wall Street. "Os dias felizes voltaram. Não houve sequer uma interrupção no fluxo dos lucros."

Esperava-se que as consequências da crise financeira colocassem em xeque o modelo de classificações de crédito, uma vez que, antes da crise, as agências deram notas altas para títulos lastreados em hipotecas residenciais. Mais tarde, muitos desses títulos tornaram-se inadimplentes, deflagrando uma onda generalizada de prejuízos.

Parlamentares e reguladores clamaram por uma grande reforma na maneira como essas firmas ganham dinheiro. Mas, sete anos depois, o principal negócio do setor - em que bancos e emissores de títulos de dívida ainda pagam as agências para classificar os papéis - ainda está de pé, apesar das preocupações com possíveis conflitos de interesse.

"As coisas continuam 80% tão perigosas como eram em 2007 e 2008", diz Brad Sherman, deputado democrata pela Califórnia, que em 2009 propôs que a alocação de negócios para as agências de classificação fosse feita por um conselho independente. Uma proposta foi inserida, mas nunca implementada, na lei Dodd-Frank, de 2010, que reformou o sistema financeiro dos Estados Unidos.

"A ideia de que nada mudou nesse setor é pura ficção", diz Daniel Noonan, porta-voz da Fitch, que pertence à Fimalac SA e à Hearst Corp.

Um porta-voz da S&P, unidade da McGraw Hill Financial Inc., diz que, nos últimos anos, a firma melhorou sua metodologia de classificação, revisou as análises e criou um novo comitê global para identificar e monitorar riscos. A Moodys não quis comentar.

Várias novas empresas tentaram desafiar as três principais agências, mas todas fracassaram. Uma delas, a Kroll Bond Rating Agency Inc., tentou sem sucesso convencer os investidores a pagar pelas classificações, antes de acabar voltando ao velho modelo utilizado pelas suas grandes rivais.

Outras tentativas foram frustradas antes de começar. A empresa chinesa Dagong Global Credit Rating Co. teve sua inscrição negada, em 2010, devido a divergências sobre como ela seria avaliada. Nenhuma nova empresa se registrou na SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA, desde o registro da HR Ratings de Mexico SA, da Cidade do México, em 2012.

"Não está acontecendo uma mudança sistêmica", diz James H. Gellert, diretor-presidente da Rapid Ratings International Inc., uma firma que é paga por investidores e não pelos emissores de dívida.

As agências de classificação afirmam que resolveram os problemas revelados pela crise fortalecendo seus departamentos de conformidade e risco, que têm a responsabilidade de garantir que os interesses da empresa não afetem a classificação dos títulos. As agências, agora, também estão sob a supervisão de uma nova divisão da SEC criada para fiscalizar o setor.

As três também são hoje menos dependentes da receita com classificações, após terem expandido seus negócios para a coleta de uma gama maior de dados financeiros.

Os títulos lastreados em hipotecas que ajudaram a provocar o colapso do mercado imobiliário americano também representam uma porção menor da receita total. No período que antecedeu a crise, a classificação de ativos envolvendo hipotecas securitizadas ou outros títulos respondia por cerca de metade da receita dessas agências. Agora, essa proporção está próxima de 10%.

Mas essas agências são hoje tão grandes, dizem alguns observadores, que sua extinção causaria danos significativos aos mercados financeiros, já que investidores usam as classificações para comprar títulos de renda fixa.

"Elas são uma necessidade", diz Philip Hilder, um advogado e ex-promotor federal de Houston, Texas. "Elas são parte do mercado. Não é possível ou imaginável desmontá-las ou destruir sua reputação. Você não pode simplesmente dar um golpe fatal nelas."

A Moodys ainda não está totalmente fora de perigo. Mais de uma dezena de Estados e o Departamento de Justiça dos EUA ainda estão examinando o comportamento da agência antes da crise, dizem pessoas a par do assunto. A investigação é semelhante em escopo à que resultou em mais de US$ 1,3 bilhão em multas pagas pela S&P, no ano passado.

FONTE: VALOR ECONôMICO