A silhueta dos arranha-céus projetados sobre o mar ficou no passado. O alargamento da faixa de areia na praia Central, em Balneário Camboriú (SC) não só devolveu o sol aos banhistas como também tem animado investidores e moradores.
Os imóveis na avenida Atlântica, de frente para o mar, tiveram uma valorização de 30% no último ano. Já os imóveis na planta acumulam uma valorização mensal entre 2,5% e 3%, segundo dados de dezembro e janeiro do Sinduscon (Sindicato da Construção Civil) da cidade. Um apartamento na quadra do mar pode chegar a R$ 6 milhões.
"A conclusão da obra se tornou uma vitrine para Balneário Camboriú, que volta a ser referência para investidores de outros estados", afirma Altevir Baron, diretor de mercado e marketing da FG Empreendimentos, incorporadora responsável por parte dos prédios mais altos da cidade. Ele cita como exemplos Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Dados do DataZap, braço de inteligência imobiliária do grupo ZAP+, apontam que a região alargada passou de uma demanda 27% menor por imóveis para locação do que a média da cidade, em 2019, para ser 8% mais procurada.
"Em alguns produtos, nós já temos uma demanda maior que a oferta, como na avenida Atlântica", diz Baron, da FG, que tem nos planos para a região o maior prédio residencial da América Latina, com pelo menos cem andares.
Dono de uma agência de marketing imobiliário e morador da cidade, Luís Henrique Schappo, 35, viu a oportunidade de também atender como corretor, e está concluindo a papelada para se habilitar na função.
Ele diz trabalhar com dois perfis de clientes. "A cidade se tornou muito atrativa para investidores entre 35 e 45 anos, com alto poder aquisitivo e que buscam valorização, e também tem a clientela do agronegócio, que procura imóveis espaçosos e querem desfrutar da cidade", explica.
Marcus Araújo, presidente-executivo da Datastore, especializada em pesquisa de mercado, diz que o alargamento de praias já inspira projetos em cidades próximas, como Itapema, Tijucas, Porto Belo, Itajaí e Balneário Piçarras.
Antes de começar uma obra dessa magnitude, porém, é preciso fazer estudos sobre o impacto ambiental na região, lembra Marcos Saes, diretor de assuntos de meio ambiente da Aelo (Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano).
Para ele, o ideal é que haja maior planejamento na verticalização do litoral, para evitar a intervenção na faixa de areia. "É um aviso para outras regiões. O mercado tem papel importante em um desenvolvimento não predatório, para que não haja sombra na praia às 13h", diz Saes, citando o caso de Balneário Camboriú.
Larissa Gonçalves, economista do DataZap, diz que os ganhos com a valorização imobiliária da região precisam ser contrapostos às questões ambientais nas praias e em seu entorno, já que essa é uma intervenção de longo prazo e amplo impacto na região.
A capital catarinense Florianópolis já concluiu o alargamento na praia de Canasvieiras e planeja aterrar mais balneários. Segundo pesquisa do DataZap, a média de preço dos imóveis na praia, que antes da obra de alargamento era 4% menor do que a média da capital catarinense, cresceu 9% entre 2019 e 2021, ficando 6% acima da média local.
Há 21 anos no mercado imobiliário local, o corretor Rafael Kappaun diz que o alargamento da praia tem atraído a Canasvieiras jovens do setor de tecnologia, tanto para aluguel quanto para compra, além de investidores argentinos, público cativo no verão.
Ilhabela, no litoral de São Paulo, também tem planos de reformar sua orla. Segundo o prefeito da cidade, Toninho Colucci (PL), o objetivo não é criar praias que antes não existiam, mas, sim, repor areia que foi perdida nas últimas décadas em um segmento da ilha, entre os bairros Barra Velha e Vila.
"Há fotos antigas que mostram trechos com faixa de areia de 30, 50 metros onde hoje não passa de cinco. E há lugar que nem areia tem mais."
A ideia, segundo o prefeito, é evitar que Ilhabela perca o atrativo turístico, setor que é o seu maior empregador, e garantir também a segurança da infraestrutura local.
"[O mar] ainda não chegou a comprometer diretamente os imóveis, mas, se não tomarmos uma atitude, vai afetar, sim", afirma Colucci.
O alargamento também inspira obras no Nordeste. Na praia de Iracema, em Fortaleza, o projeto passou por dois processos de engorda, entre 2000 e 2019, e hoje a faixa de areia chega a 120 metros.
A última etapa da intervenção prevê também requalificação da avenida Beira-Mar, ponto da orla da capital cearense em que os principais hotéis da cidade dividem espaço com prédios residenciais.
De olho na valorização, a construtora Normatel constrói dois prédios vizinhos na região. Um deles é o empreendimento de 32 andares batizado de DC 360º, com 26 unidades de mais de 500 m² cada, por cerca de R$ 8 milhões. O outro é o São Carlos, também com vista para a praia. São apartamentos de 800 m² e dez vagas de garagem, a mais de R$ 12 milhões por unidade.
Imóveis com esse padrão atraem um público novo para Fortaleza, avalia o economista Álvaro Carvalho, conselheiro do Corecon (Conselho Regional de Economia do Ceará).
Segundo a prefeitura, o objetivo da obra foi recuperar a área de praia afetada pela erosão costeira, implantar um espaço urbanisticamente renovado e gerar renda e oportunidades de lazer e esporte.
Em Natal (RN), está prevista uma obra de R$ 70 milhões para a engorda da praia de Ponta Negra, a mais famosa da capital potiguar. E em João Pessoa (PB), há um plano para ampliação da faixa de areia em ao menos quatro praias: Ponta do Seixas, Cabo Branco, Manaíra e do Bessa.
Ivan Tonon, investidor imobiliário em Florianópolis, diz que o sucesso desses projetos está atrelado à melhoria da infraestrutura, como as vias de acesso à praia, e oferta de serviços. "Praias bonitas e banháveis são muito requisitadas, a valorização imobiliária é consequência", afirma.