Maciel, do BC: receio dos bancos com inadimplência em ambiente de fraca atividade O alívio nas condições financeiras do país ocorrido desde o começo do ano ainda não chegou a empresas e famílias pelo canal de crédito, mostram dados do Banco Central (BC) divulgados ontem. Os custos de captação dos bancos tiveram forte queda, mas até agora as instituições financeiras não repassaram os ganhos a seus clientes.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC começou a baixar os juros apenas na semana passada, com um corte de 0,25 ponto percentual, mas nos meses anteriores o mercado já vinha antecipando o alívio monetário na curva de juros futuros.
Isso se refletiu numa queda de três pontos percentuais nos custos de captação dos bancos, que passaram de 15,2% ao ano em dezembro de 2015 para 12,2% ao ano em setembro, segundo os dados mais recentes divulgados na nota de crédito do BC. Na contramão, os bancos aumentaram as taxas médias cobradas de seus clientes no período, que passaram de 47,3% ao ano para 53,4% ao ano, no chamado crédito livre, com as taxas determinadas pelas instituições financeiras.
Além de não repassar a queda dos custos de captação aos clientes, os bancos estão engordando as margens brutas. O chamado spread bancário, a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram de quem empresta o dinheiro, aumentou 9,1 pontos de dezembro de 2015 a setembro de 2016.
Somado à perspectiva de distensão monetária, pesou também no alívio das condições financeiras a melhora na percepção de risco dos mercados, que provocou a queda na curva de juros futuros para prazos mais longos, conforme tem sido notado em discursos recentes pelo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Segundo ele, esse alívio financeiro é um dos componentes - ao lado de outros, como a retomada da confiança e a alta da bolsa - que deverão levar no futuro à retomada da economia.
Por enquanto, esse alívio financeiro não se transmitiu para a economia real por meio do canal do crédito. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, ponderou que ainda pode ser transmitido. "Em alguns ciclos econômicos, os bancos anteciparam a queda de juro, em outros isso ocorreu apenas depois." Segundo ele, a demora dos bancos em repassar a queda dos custos de captação para os clientes pode estar ligada a receios dos bancos com inadimplência num ambiente ainda de fraca atividade e alto desemprego.
De fato, houve um aumento na taxa de inadimplência neste ano, porém bem mais suave do que a elevação do spread. O indicador passou de 3,4% para 3,7% de dezembro de 2015 a setembro de 2016, um incremento de apenas 0,3 ponto em três trimestres. Em setembro, o índice ficou estável. Mas um indicador antecedente de inadimplência, os atrasos de até 90 dias no pagamento de prestações de empréstimos, recuou de 4,3% para 4,1% nas linhas de capital de giro, um dos segmentos que mais causavam preocupação.
Maciel disse que a composição do crédito também tem algum efeito estatístico sobre os juros médios cobrados dos clientes. Os bancos, segundo esse raciocínio, estariam emprestando principalmente em linhas mais caras, como cheque especial, o que eleva o juro médio do sistema.
Mas os dados do BC mostram que o aumento de juros é generalizado, não se restringindo aos financiamentos mais caros. Entre as linhas em que os juros caíram, apenas uma delas (arrendamento mercantil de outros bens que não veículos) teve queda igual ou menor do que a redução do custo de captação dos bancos.
O Banco Central reiterou ontem que não conta com o crédito bancário como um fator que possa puxar a economia da recessão atual, mas acha que esse poderá ser um fator de sustentação assim que a atividade estiver em trajetória de expansão.
Em setembro, o volume de crédito na economia recuou 0,2%, na comparação com agosto, chegando a R$ 3,110 trilhões. Nos dados em 12 meses, a contração se aprofundou, passando de queda de 0,6% em agosto para 1,7% em setembro. Mas, ponderou Maciel, os dados foram prejudicados pela greve dos bancários, que atingiu o desempenho de linhas que precisam do apoio das agências para serem contratadas, como crédito consignado e empréstimos imobiliários.
Para ele, os dados de crédito a pessoas jurídicas de setembro mostram sinais de acomodação na margem. "Antes, todas as modalidades de crédito vinham registrando quedas generalizadas", disse. "Agora, há algumas linhas mais ligadas ao ciclo econômico, como desconto de duplicatas, que estão crescendo, enquanto outras caem", afirma. Na definição de Maciel, a acomodação ainda não significa fim da queda do crédito para pessoas jurídicas, mas sim uma desaceleração nas taxas de recuo. Isso seria demonstrado pela média móvel do crédito livre a empresas. Em abril, a queda foi de 7,6%; em maio, ficou em 8,3%; em junho, de 5,5%; em julho, 4,1%; em agosto, 3,2%; e em setembro, de 3,3%.