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17/05/2022

Alta de juros e menor demanda por crédito vão exigir resiliência dos bancos’, diz presidente do Itaú

Segundo Milton Maluhy, presidente do Itaú, solidez favorece o banco em meio ao atual cenário de aperto monetário

Investir no maior banco da América Latina parecia cada vez menos atraente em comparação às novatas fintechs quando Milton Maluhy assumiu como presidente no ano passado.

O Itaú acumulava queda de 35% em suas ações entre 2019 e 2020, perdendo R$ 130 bilhões em valor de mercado, enquanto concorrentes digitais como a Stone estavam bombando. O temor dos investidores era de que o banco de Maluhy ficasse para trás comendo poeira, um dinossauro que não conseguiria acompanhar a revolução digital.

Só que esses medos não se concretizaram. O aumento dos juros e a redução da liquidez global estão derrubando as ações das fintechs, enquanto bancos mais tradicionais, como o Itaú, são vistos como apostas mais seguras.

 

E assim, com 15 meses no cargo, Maluhy pode se gabar de uma recuperação do preço de 18% desde o começo do ano, dividendos crescentes e uma lista de aquisições que ele diz vão modernizar o gigante do setor bancário de quase 100 anos.

Enquanto isso, empresas de tecnologia financeira como Stone e Nubank caíram até 50% este ano devido ao ceticismo de que vão conseguir cumprir suas promessas de crescimento em um ambiente mais hostil.

“A alta de juros e a menor demanda por crédito vão exigir dos bancos bastante resiliência operacional”, disse Maluhy, 45, em resposta a perguntas enviadas por e-mail. “Isso eventualmente favorecerá quem acumula mais conhecimento sobre mercado e possui uma sólida estrutura de capital.”

 

O principal executivo do Itaú, que começou no banco em 2002 e ocupou cargos em áreas que vão desde câmbio e tesouraria até cartões de crédito, está pressionando por ainda mais mudanças – e cada vez mais rápido.

“Precisamos construir uma organização mais simples, ágil e eficiente”, disse Maluhy, que anteriormente liderou operações do Itaú no Chile e na Colômbia. “Nosso foco é acelerar cada vez mais essa transformação cultural e digital.”

Com esse objetivo em mente, o banco está de volta à caça de aquisições e parcerias. E agressivamente: analistas do BTG Pactual disseram que o Itaú está em “modo de ataque” no setor de tecnologia.

 

Embora os reguladores tenham deixado claro que impediriam compras diretas de instituições financeiras, o banco está encontrando maneiras de fechar negócios em outras áreas. O Itaú vai desembolsar até R$ 1 bilhão em uma joint venture com a Totvs, que oferece software que ajuda as empresas a gerenciar seus negócios.

E firmou parcerias com a Locaweb, provedora de serviços web, e com a Omie, que oferece programas de gestão de negócios para empresas.

 

O objetivo é liderar o processo de transformação digital por meio de investimentos e, sobretudo, por meio de uma mudança cultural dentro do banco, disse Maluhy.

Ainda assim, há dúvidas persistentes sobre como o banco se sairá contra os ventos contrários no horizonte.

“A concorrência mais acirrada das fintechs continuará sendo um risco-chave para o Itaú, especialmente para seus negócios de cartões”, disse Diksha Gera, analista da Bloomberg Intelligence. A economia em dificuldades do Brasil e a incerteza política também pesarão negativamente no crescimento, disse ela.

Maluhy, que também é membro do conselho consultivo do Bloomberg New Economy Gateway Latin America, falou sobre outros tópicos:

 

Perspectivas para o Brasil

 

“A guerra na Ucrânia levou a uma disparada dos preços das commodities, algo que significa mais inflação no mundo todo”, disse Maluhy. “Mas também resulta em atividade econômica mais forte nos países produtores de commodities, como o Brasil.”

“Acreditamos que o Banco Central deverá elevar ainda mais a taxa Selic para conter esse novo choque inflacionário, e o pano de fundo do aperto monetário nos EUA apenas contribui nessa direção, uma vez que a alta dos juros por lá deve pressionar as taxas de câmbio nos mercados emergentes.”

Planos para a América Latina

“Hoje, nossa maior oportunidade está nas operações que já temos no Brasil e em outros países da América Latina”, disse. “Temos operações no Chile, Colômbia, Peru, Uruguai, Argentina e Paraguai, que estão entregando resultados e apresentando avanços importantes.”

“Nossa prioridade com as operações internacionais tem sido a de gerar valor para nossos acionistas. Aquisições fora do Brasil, por questões de assimetrias cambiais e tributárias, tendem a exigir uma grande alocação de capital, o que impacta negativamente no compromisso com os acionistas.”


Despesas

 

“Nosso foco é em eficiência, não simplesmente cortar custos”, disse o presidente do Itaú. “Nos últimos anos, fizemos uma revisão de onde e como usamos nossos recursos e nos adaptamos. Veja o número de colaboradores: ao final de 2018, tínhamos 86.800 colaboradores diretos no Brasil.

Em dezembro de 2021, esse número saltou para 87.340, com ênfase para a contratação de profissionais da área de tecnologia.”

Agências

“A figura da agência bancária física tem sido ressignificada e se mostrado um ativo valioso para nós no atendimento dos nossos clientes, sobretudo na oferta de produtos mais complexos e sofisticados, como o financiamento imobiliário”, disse Maluhy. “Nosso objetivo é combinar cada vez mais o atendimento remoto e físico.”

 

Dimensão do banco

 

“O Itaú Unibanco tem o portfólio de produtos e serviços financeiros mais completo do mercado, maior que qualquer outro player, seja ele incumbente ou fintech”, disse. “Nossa base de clientes ativos é robusta, com quase 60 milhões de pessoas e empresas. Temos cerca de R$ 3 trilhões de ativos sob custódia e R$ 1 trilhão em crédito concedido.”

Com cerca de 70 petabytes de dados, o Itaú está “na jornada de modernização dos nossos sistemas e migração para a nuvem em larga escala”, disse ele. 

 

Matéria publicada em 16/05/2022 

FONTE: BLOOMBERG