Notícias

14/02/2024

Alto volume de saques da poupança pressiona mercado imobiliário (Poder 360)

Caderneta perdeu R$ 87,8 bilhões em 2023; queda de recursos dificulta financiamento de imóveis para classe média

A alta demanda de saques da caderneta de poupança está provocando reflexos em outros setores da economia, inclusive no mercado imobiliário. Uma das mais tradicionais fontes de recursos para financiamentos de imóveis para a classe média com juros limitados, o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) é afetado pela retirada persistente de recursos.

Somente em janeiro, os investidores retiraram da poupança R$ 20,1 bilhões a mais do que depositaram. Nos últimos 3 anos a aplicação perdeu: R$ 87,8 bilhões (2023), R$ 103,2 bilhões (2022) e R$ 35,4 bilhões (2021).

 

Atualmente, os bancos são obrigados a destinar 65% dos depósitos da poupança ao SBPE. Esse sistema cobre até 80% de imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros limitados a 12% ao ano, o teto do SFH (Sistema Financeiro da Habitação).

A modalidade tem risco historicamente baixo de inadimplência porque as prestações são limitadas a 30% da renda do mutuário, e os financiamentos duram até 35 anos.

 

Para o advogado Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário, o mercado imobiliário passa por uma mudança estrutural, que reflete a perda de interesse do investidor pela caderneta. Tanto o rendimento baixo da poupança quanto a ampliação de opções no mercado financeiro estimulam a fuga de investidores.

“A diminuição do estoque de dinheiro das poupanças é um caminho sem volta. O mercado financeiro hoje é muito mais simples. Bancos de investimento populares permitem às pessoas físicas investir em instrumentos financeiros com muita facilidade e muito mais perspectiva de retorno”, declarou. Também disse que “a poupança traz prejuízo e, a cada dia, menos pessoas pensam nela como um investimento”.

PERSPECTIVAS

 

Com cada vez menos recursos na poupança, os bancos destinam menos dinheiro para empréstimos no SPBE. Segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o número de lançamentos de unidades imobiliárias pelo SBPE caiu de 20% a 30% em 2023.

A CBIC não tem projeções para essa modalidade em 2024. No fim de 2023, a entidade informou apenas que acredita em uma recuperação no SBPE no 2º semestre e que o número de lançamentos será ao menos igual ao de 2023. A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) prevê que o volume de crédito no sistema fique estável em relação a 2023, afetado tanto pela retirada de recursos da poupança como pelos juros ainda altos.

 

OPÇÕES

Com o SBPE menos requisitado, os mutuários de classe média têm duas alternativas. A 1ª são os financiamentos com o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Essa modalidade também financia imóveis de até R$ 1,5 milhão com juros de até 12% ao mês, mas exige regras adicionais em relação ao SBPE. O comprador precisa trabalhar pelo menos 3 anos com carteira assinada, não pode ter outro financiamento ativo no SFH, nem ter outro imóvel na cidade onde mora ou trabalha, nem em municípios vizinhos e na mesma região metropolitana.

A outra opção consiste no SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário), que obedece a taxas e condições de mercado. Essa modalidade permite o financiamento de imóveis acima de R$ 1,5 milhão e entrada zero (100% do valor financiado), mas normalmente tem juros mais altos.

As principais fontes de recursos dos bancos que concedem os financiamentos no mercado livre são os títulos privados, como as LCI (letras de crédito imobiliário), os CRI (certificados de recebíveis imobiliários) e as LIG (letras imobiliárias garantidas), objeto de uma mudança recente de regras do Conselho Monetário Internacional.

MUDANÇA

Segundo Tapai, há uma mudança na composição dos fundos para financiamento imobiliário, com o crescimento dos títulos privados, que custam mais para as instituições e elevam o custo do crédito para a compra de imóveis. “Isso é ruim para quem financia imóveis não abrangidos pelo SFH, pois não há limitação de taxa de juros e os prazos são menores. Não há nenhuma limitação e as regras de mercado são as que valem”, declarou.

O especialista diz ainda não ser possível avaliar o impacto das mudanças das regras para a LCI, o CRI e o LIG.

Tapai não descarta que as restrições ao lançamento desse tipo de papéis se reflitam em juros menores, como alega o BC (Banco Central), porque parte dos recursos levantados com tais títulos não estava sendo usada no mercado imobiliário. “O BC afirma que sim, mas somente o mercado poderá dizer que os juros no mercado livre vão baixar”, disse.

CRESCIMENTO

 

Mesmo com a estagnação do SBPE, a Abecip aposta em crescimento de 3% no crédito imobiliário em 2024, com as concessões fechando o ano em R$ 259 bilhões, superando o recorde de R$ 255 bilhões emprestados em 2021. Para a entidade, essa expansão deve ser sustentada pelos financiamentos do FGTS.

A CBIC, cuja análise se concentra no número de lançamentos, estima que o volume de empreendimentos imobiliários com recursos do FGTS e do Minha Casa, Minha Vida cresça 15% em 2024. Para o mercado imobiliário total, a entidade projeta que 320 mil unidades devem ser lançadas neste ano. Ainda não dá para projetar se essa volume representa crescimento em relação a 2023 porque as estatísticas do ano passado ainda estão sendo fechadas.

FONTE: PODER 360