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26/03/2020

Alugar ou comprar imóveis? Veja o que compensa com a Selic em baixa

Se a intenção for moradia e o valor financiado for menor do que locar, pode ser interessante adquirir a casa própria, mas o momento exige cautela

Comprar ou alugar um imóvel sempre exigiu muitos cálculos para não transformar o sonho em pesadelo. Até o início de 2019, a aquisição não era a alternativa mais recomendável. Os juros do financiamento eram altos e deixar o recurso na renda fixa dava um retorno melhor. Mas agora o cenário é outro. A taxa básica de juros sofreu novo corte em março de 2020, passando de 4,5% para 3,75% ao ano, seu menor nível histórico. Assim, os juros do financiamento imobiliário também caíram para os mais baixos percentuais já registrados. Será então que chegou a hora de fechar negócio? Se o objetivo é sair do aluguel, a depender do quanto será financiado, pode sim valer a pena comprar. Mas outras questões devem ser avaliadas.

 

“Provavelmente o mundo nunca passou por um período tão conturbado e sujeito a variações tão rápidas e profundas como as que nos afetam atualmente, por causa do coronavírus. Qualquer previsão que se faça pode perder fundamento em questão de horas, pelas decisões que são tomadas pelos órgãos governamentais e pelos índices econômicos e cambiais, que sofrem alterações terrivelmente expressivas, bem como a divulgação das estatísticas”, afirma o advogado especialista em direito imobiliário, Bence Pál Deák.

Diante disso, o especialista avalia que levará meses para que os danos ao ambiente macroeconômico sejam superados e os países retornem ao contexto pré-crise, além de ser impossível precisar quanto tempo isso levará. “Mas a superação deverá ocorrer, porque as bases da economia serão as mesmas que haviam antes do vírus. Assim, com otimismo, pode-se esperar um hiato recuperável”, declara Deák.

 

Consequências da variação

 

A Selic é um índice calculado pelo Banco Central do Brasil e é considerado a taxa básica de juros da economia. Ele se reflete diretamente nas taxas praticadas pelos bancos e, consequentemente, nos investimentos e nos empréstimos, inclusive nos financiamentos para obtenção de imóveis e mesmo para a construção civil. Umas das consequências da variação da taxa Selic é que ela define o direcionamento dos recursos de investimento e, em caso de aumento, ocorre consequentemente uma desaceleração da economia. Em caso de diminuição, ocorre a aceleração.

 

Os financiamentos imobiliários têm como indexadores mais usuais a Taxa Referencial (TR) e o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), que são afetados pela Selic. “Portanto, quanto mais baixa a Selic, mais recursos financeiros são encaminhados para o setor imobiliário e as taxas de financiamento e empréstimos também sofrem redução, aumentando a disponibilidade e a possibilidade de obtenção dos créditos. Assim, a Selic tem reflexo direto no nível de atividade do setor imobiliário, na medida em que taxas mais baixas trazem mais recursos ao setor e tendem a diminuir os custos de construção”, explica Bence.

 

Isto posto, a decisão de adquirir ou não um imóvel não pode ser tomada apenas com base na variação da Selic. O índice é apenas um dos fatores a ser considerado, mas não pode ser o único. Questões pessoais também devem ser levadas em consideração. A urgência, por exemplo. Para quem procura um imóvel para uso próprio, pode não querer ou mesmo poder esperar por uma definição mais clara do ramo. Imagine quem está se casando e precisa ter onde morar?

 

Por outro lado, alguns investidores poderão adiar as aquisições, esperando por uma eventual desvalorização do mercado imobiliário e uma aquisição mais vantajosa no futuro. “Mas quem decide postergar a compra de uma casa na expectativa de que ocorra uma queda nos preços, pode acabar, eventualmente, perdendo uma boa oportunidade de negócio.” As incorporadoras também devem manter o nível de atividade, porque seus planos de investimento e o período de maturação são a longo prazo e certamente elas estão apostando na plena recuperação do setor

FONTE: ESTADO DE S. PAULO