Entre os sonhos comuns dos brasileiros está a casa própria, não por acaso o financiamento de imóveis movimentou R$ 97 bilhões apenas no primeiro semestre de 2021, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), crescimento de 124% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O crescimento do financiamento de imóveis também já foi verificado pelo Banco Central. Um estudo divulgado em julho deste ano pelo BC revela que entre as operações de crédito direcionado, o saldo com pessoas físicas teve expansão de 15,3% em 12 meses, em função justamente das carteiras de financiamento imobiliário.
“No nosso país, o financiamento imobiliário é uma questão cultural relacionada com herança patrimonialista. Há uma crença muito forte sobre a casa própria e um grande viés psicológico sobre ter um imóvel. As pessoas ainda são muito apegadas a isso”, comenta Thiago Godoy, head de Educação Financeira da Xpeed School.
Apesar da relevância da casa própria para o brasileiro, não há consenso entre os especialistas em finanças sobre os benefícios de ter um imóvel. Na verdade, muitos defendem que o aluguel pode ser mais vantajoso, a depender da situação financeira de cada família e do momento de vida de cada inquilino.
Valter Police, planejador fiduciário da Fiduc, explica que o financiamento costuma ser mais caro que o aluguel para o mesmo imóvel, por conta dos juros cobrados nas parcelas e do valor de entrada que deve ser oferecido.
“Um financiamento em 30 anos, por exemplo, por menor que seja o valor do juros, ainda terá juros muito altos. Muito maiores, inclusive, que a potencial valorização do imóvel”, explica Thiago Godoy. “Com os juros do financiamento, a pessoa pode pagar cerca de três vezes o valor do imóvel que pagaria à vista, com a perspectiva de que talvez ele valorize. Mas isso não é certeza”.
Mas como saber se comprar ou alugar um imóvel é melhor? Godoy orienta uma possível simulação: o inquilino deve considerar qual seria a rentabilidade adquirida ao aplicar o valor da entrada do imóvel no Tesouro Direto IPCA+, durante o tempo de duração do financiamento. Então, essa rentabilidade deve ser somada ao valor das prestações do financiamento para o mesmo período.
Por último, o valor final deve ser comparado com o valor de aluguel que se pagaria para o mesmo imóvel e mesma quantidade de meses. Em um financiamento de 100 meses, por exemplo, devem ser somadas a rentabilidade da entrada no Tesouro Direto IPCA mais 100 parcelas de financiamento. E então, comparar este resultado com 100 parcelas de aluguel.
“Se a rentabilidade somada com as parcelas for maior que o aluguel pago durante o período, então o aluguel é mais vantajoso. Porém, se a rentabilidade mais as parcelas forem menores que o valor pago com o aluguel, então vale a pena comprar”, explica.
Individualmente, as vantagens financeiras não são as únicas que devem ser analisadas para decidir entre o aluguel, o financiamento e a compra à vista. Portanto, com ajuda dos especialistas, a Forbes elencou abaixo alguns pontos que devem ser levados em consideração pelos investidores. Considere a importância de flexibilidade para sua vida
Para Police, o primeiro tópico a ser considerado não tem a ver com dinheiro, e sim com flexibilidade. “Antes de comprar, é preciso ter certeza de que nos próximos anos não será necessário morar em um local maior ou em outra cidade”, pontua.
Isso envolve filhos que estão saindo de casa, pessoas recém-casadas, ou mesmo profissionais que estão iniciando a carreira e podem ter necessidade de morar em outros locais por conta do trabalho. “As pessoas têm planos, mas não têm certezas. Se flexibilidade é importante, o aluguel é mais favorável”, diz.
A flexibilidade pode incluir também mudanças no próprio bairro onde o apartamento está localizado. Em cidades grandes, por exemplo, locais podem deixar de ser arborizados ou receber construções que desvalorizem a região. “Talvez você dê sorte, ou talvez o bairro não seja o mais legal para sempre”, comenta Police.