O aluguel residencial teve a queda mais forte em três meses em dezembro e pode continuar a cair em 2024, segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que divulgou seu Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR) hoje.
A queda de 1,16% no último mês do ano foi a maior desde setembro (-1,74%), influenciada por fatores sazonais já que reajustes em contratos de locação não costumam ser frequentes no último mês do ano, segundo ele.
“Diferente de janeiro, quando normalmente se ajusta aluguel”, acrescentou. Ainda assim, a tendência é de baixa para o valor da locação ao longo deste ano.
Na passagem de novembro para dezembro do ano passado, as principais capitais usadas para cálculo do Ivar mostram desaceleração, na variação de aluguel. É o caso de São Paulo (de 5,48% para 4,89%) e de Rio de Janeiro (de 9,27% para 8,27%). Em contrapartida, houve acelerações nas variações de Belo Horizonte e Porto Alegre, respectivamente de 10,26% para 11,53%; e de 6,66% para 7,73%.
Mesmo com taxa menor na evolução mensal, o Ivar acelerou na taxa acumulada em 12 meses, de 7,4% para 7,46%, de novembro para dezembro. Isso se explica por um efeito estatístico, detalhou Braz, a lembrar que, em dezembro de 2022, o Ivar caiu mais do que em igual mês no ano passado. “Tiramos da série de 12 meses um recuo de 1,19% [de dezembro de 2022] para uma taxa negativa de 1,16%” disse ele.
No entanto, para janeiro, a perspectiva é de que a taxa em 12 meses do indicador, melhor indicador para mensurar tendência de locação, volte a cair, afirmou ainda o técnico. O especialista comentou que provavelmente o Ivar será beneficiado também por efeito estatístico. Em janeiro de 2023, o indicador subiu 4,2%. “Em janeiro de 2024, teremos taxa positiva [na variação de aluguel] porque normalmente se ajusta os preços de aluguel no começo do ano. Mas não vai ser tão intenso assim, em 4%”, afirmou.
Para se entender a tendência da locação em 2024, o economista comentou que é preciso observar ritmo da taxa básica de juros (Selic), que norteia juros de mercado; e o impacto da Selic no desejo de financiar casa própria. Ele lembrou que o Banco Central (BC) iniciou sequência de cortes na Selic no segundo semestre do ano passado, que deve perdurar esse ano. Mas a influência dos cortes, na taxa básica de juros, demora de cerca de seis meses a nove meses para chegar na chamada “economia real” - como juros de financiamento imobiliário, por exemplo, recordou ele.
Assim, no entendimento do especialista, os juros de financiamento imobiliário devem começar a ser tornar mais atrativos, ao longo de 2024 aos interessados em casa própria que, hoje, lidam com locação. “Às vezes a taxa de juros [de financiamento imobiliário] é tão alta que dá para comprar dois apartamentos”, comentou. “Muitos optam por permanecer no aluguel [com juros altos de financiamento de imóvel]”, continuou.
Porém, caso os juros para crédito em compra de imóvel fiquem menores em 2024, influenciados por corte da Selic, isso pode levar à cadência maior de pessoas comprando imóvel próprio, o que diminui demanda por aluguel, explicou o especialista. Esse movimento pode fortalecer cenário de procura maior que oferta, no mercado e, com isso, influenciar para baixo variação de preços de locação esse ano, notou ele.