As mudanças anunciadas na diretoria da Gafisa na sexta-feira (28) foram vistas por analistas do mercado como um elemento de risco extra às ações da companhia. A leitura é de que o ajuste é necessário, mas a inexperiência da nova administração pode pesar contra.
Na sexta, a incorporadora anunciou a saída de seu presidente, Sandro Gamba. Além dele, saíram também o diretor financeiro e de relações com investidores, Carlos Eduardo Moraes Calheiros, e o diretor operacional, Gerson Cohen.
A mudança era defendida pela gestora GWI, maior acionista da companhia, e que assumiu o comando do conselho de administração em 25 de setembro. Atualmente, a GWI possui cinco dos sete assentos do colegiado.
Para a presidência, o novo conselho indicou Ana Recart, que assumirá de forma interina a diretoria financeira e de relações com investidores. Para a diretoria operacional, o colegiado nomeou Karen Sanchez Guimarães.
Em relatório, o BTG Pactual lembra que a alavancagem da empresa é alta, deixando o mercado cético em relação ao programa de recompra de ações aberto também na sexta-feira. Destaca ainda que a Gafisa está no meio de uma recuperação operacional complexa.
"Como o conselho ainda não anunciou um novo plano estratégico e a nova equipe de gerenciamento não tem experiência anterior em construção residencial, evitaríamos Gafisa", diz o BTG.
Além da mudanças na administração, a chegada da GWI ao conselho também levou à presidência do colegiado o principal sócio da gestora, o coreano Mu Hak You. Outro anúncio foi a mudança de sua sede da Zona Oeste de São Paulo para São Caetano do Sul (SP).
O Credit Suisse apontou em relatório que as mudanças podem romper com padrões da companhia. "Como resultado, podemos testemunhar uma transição um pouco mais turbulenta", afirmam os analistas do banco suíço. Do ponto de vista positivo, o Credit destacou a mudança de sede e o fechamento do escritório do Rio.
"Em nossa opinião, o foco na diminuição do tamanho da empresa e na redução da alavancagem faz sentido estratégico, à luz da situação de balanço apertado da Gafisa", destaca a análise do Credit.
O Itaú BBA afirmou que a mudança pode aumentar as incertezas relacionadas às operações e à estratégia da companhia.
Como lado positivo, o banco destaca que os dois conselheiros que não foram indicados pela GWI, Tomás Awad e Eric Alencar, tem larga experiência no setor.
"Embora ainda seja cedo demais para avaliar o plano de ação da nova diretoria da Gafisa, acreditamos que o abalo poderia potencialmente suscitar incertezas de curto prazo em torno da ação", afirmam os analistas do Itaú BBA.
O Itaú diz que mudanças na estrutura organizacional da empresa também poderiam afetar, até certo ponto, as operações de construção residencial no curto prazo.
No segundo trimestre, a receita líquida dobrou na comparação anual, para R$ 302,3 milhões. A alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre patrimônio foi de 82,8% no período. No fim de 2017, a relação era de 126,1%.