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26/07/2016

Analistas veem espaço para alta adicional de BB 

Mas analistas ainda tentam avaliar o quanto as mudanças recentes na gestão da instituição podem ajudar a corrigir essa diferença.

As ações do Banco do Brasil (BB) voltam a chamar a atenção dos analistas, que veem espaço para que a grande defasagem entre os papéis da instituição pública e de seus pares diminua. Essa é uma estratégia de risco, uma vez que o mercado ainda avalia as consequências da forte expansão do crédito sobre o resultado do banco. De todo modo, a leitura é que a troca de gestão da instituição é um evento que abre oportunidade de recuperação mais rápida das ações do banco, que têm grande desconto em relação a seus concorrentes privados. Para gestores, mesmo com a valorização recente, os papéis podem ser uma opção para estratégias de prazo mais longo, menos sensíveis à volatilidade que as ações do BB ainda podem sofrer neste período de transição política.

"O BB ainda está subvalorizado em relação a seus pares", afirma Christian Laubenheimer, da Platinum Investimentos.

A ação ON (ordinária) do BB subiu 3,44% ontem, para R$ 21,32. No ano, a alta é de 43,12%, desempenho superior ao do Ibovespa, que acumula ganho de 31,19%.

Mesmo com a forte valorização acumulada, o Deutsche Bank mudou sua recomendação para as ações do BB de "manutenção" para "compra", numa análise que destaca principalmente a mudança no governo. Outros especialistas também apontam para o potencial de ganho dos papéis, a partir da leitura de indicadores usados na análise fundamentalista, que revelam um desempenho do Banco do Brasil ainda inferior ao de seus pares. Essa defasagem de preços é histórica e, na visão desses analistas, pode diminuir com a perspectiva de melhora na gestão do banco e na composição das carteiras de crédito, que tendem a ser beneficiadas pela retomada da economia.

De acordo com relatório produzido pelo analista Tito Labarta, do Deutsche Bank, o BB pode se beneficiar de um governo menos intervencionista. "O BB sofreu mais do que seus pares no ciclo de crédito atual devido a empréstimos concedidos durante a gestão do governo anterior para apoiar a economia. Isso levou à contração da margem financeira, deterioração da qualidade dos ativos, forte queda na rentabilidade, e uma relativamente baixa base de capital com um índice de capital nivel 1 perto de 8%", escreveu o analista em relatório distribuído aos clientes.

O desconto do BB pode ser ilustrado por meio da leitura de indicadores de análise fundamentalista. O dado que mede a relação entre preço e valor patrimonial da ação do Banco do Brasil está em 0,62, bem abaixo da média recente e longe da melhor marca registrada nos últimos dois anos, que foi de 1,22 em agosto de 2014. "O indicador pode subir para entre 0,75 e 0,80, o que representa um potencial de valorização entre 20% e 29%", estima Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Na análise fundamentalista de ações, quando o "p/vpa" (preço sobre valor patrimonial da ação) está igual a 1 significa que o papel está sendo negociado pelo equivalente a seu patrimônio líquido. Quando o indicador está abaixo de 1, é um sinal de que os investidores estão pagando pelas ações da empresa um preço inferior ao do seu patrimônio líquido - seja porque o papel ainda está barato e tem espaço para se valorizar ou porque a empresa esteja passando por algum problema de gestão que limite os ganhos do ativo.

Em Bradesco ON, a relação é de 1,60, e em Bradesco PN, de 1,35; Itaú Unibanco PN tem p/vpa de 1,93, até ontem. O Santander Unit marcava 0,64, em junho.
 
Por outro indicador, o P/L (preço/lucro), o Banco do Brasil também tem um desempenho inferior ao de seus pares. O P/L do banco está em 5,4, enquanto Bradesco ON fica em 8,5. Quando a análise é feita pelo ROE (retorno sobre o patrimônio), o indicador do BB também é o menor dentre as principais instituições financeiras. Mas analistas ainda tentam avaliar o quanto as mudanças recentes na gestão da instituição podem ajudar a corrigir essa diferença.

"O BB ainda é um ativo de risco, não acho que esteja barato, o papel está se valorizando com a expectativa de melhora futura na economia", diz Adeodato Volpi Netto, diretor da Eleven Research. Já Leonardo Milane, estrategista para pessoa física do Santander, diz que "o BB pode ter atingido seu pior resultado operacional recente no segundo trimestre". "A trajetória daqui para a frente é de recuperação e pode dar início a um movimento de alta consistente das ações", diz.

De acordo com analistas, entre os fatores que podem favorecer a alta nas ações ordinárias do Banco do Brasil estão a mudança no comando da instituição, que passou a ser presidida por Paulo Caffarelli, e a perspectiva de redução do apetite de risco do banco, o que mitigaria a inadimplência, podendo aumentar o retorno sobre o patrimônio líquido. Além disso, a estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) possa crescer 1,10% no próximo ano, segundo o Boletim Focus, deve reduzir a inadimplência e aumentar o interesse por empréstimos.

Por outro lado, os fatores que podem impedir uma alta nas ações do BB são a venda dos papéis que fazem parte do Fundo Soberano do Brasil e que podem pressionar para baixo as cotações. No começo de maio, o governo anunciou que vai extinguir o Fundo Soberano, que é composto por 98% de ações do BB. Também significa risco para a instituição, segundo Plácido, a hipótese de incorporação dos empréstimos da Caixa, excluindo crédito imobiliário, e uma piora no cenário macroeconômico. "É um ativo que está sendo negociado a múltiplos baixos, mas é volátil devido ao impacto político, o que aumenta o risco", diz Plácido. 

FONTE: VALOR ECONôMICO