Por Heraldo Vaz
São Paulo bateu recorde com o lançamento de 81,8 mil imóveis novos em 2021. A maioria (56%) foi do segmento de médio e alto padrões, que sobe mês a mês neste ano, com 58% de participação em março, indo a 59% em abril, segundo os últimos dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). Na contramão, a fatia diminuiu para a moradia popular.
“Existe demanda reprimida para a classe média e a alta”, diz o economista-chefe do Secovi, Celso Petrucci, relacionando menor oferta desse tipo de produtos com a crise do setor imobiliário, de 2014 a 2017. “É um mercado que absorve melhor aumentos de custos”, afirma o presidente executivo do Secovi, Ely Wertheim.
Nos últimos 12 meses, fechados em abril pelo Secovi, foram lançadas 85 mil unidades residenciais em São Paulo, número que supera o recorde do ano de 2021.
Para Petrucci, os primeiros quatro meses “pegaram muito da força do ano passado”, quando a taxa de juros era baixa. “Com condições totalmente favoráveis em 2020 e parte de 2021, os lançamentos cresceram”, declara, ao ponderar que agora o cenário econômico piorou. Mas as empresas, segundo ele, continuam fazendo seus lançamentos, principalmente no mercado de médio e alto padrões. “É uma demanda que temos na cidade.”
O maior volume de lançamentos mostra a confiança do setor no mercado paulistano. “Confiança porque os resultados do ano de 2021 deram esse conforto para os incorporadores continuarem.” A linha é de crescimento, mas Petrucci prevê que “isso vai se atenuar até o final do ano”.
Wertheim diz que a “inflação de custos é o grande problema do mercado imobiliário”, citando gastos com aço, cimento e outros produtos atrelados ao dólar, como o alumínio. “Para o programa Casa Verde e Amarela (CVA) é pior, afeta muito mais e desenquadra o preço dos imóveis.” O aumento de custo dos materiais, segundo Wertheim, é um problema do mercado, “mas o CVA sofre mais”.
Em 2021, Sacomã registrou o maior volume de lançamentos para baixa renda, com 3,2 mil unidades. A seguir, vêm Pirituba, com 2,6 mil imóveis econômicos, Cambuci (2,2 mil), São Mateus (2 mil) e Santa Cecília (1,6 mil).
No total, foram lançadas 36 mil habitações populares em 2021, aumento de 22% sobre o desempenho operacional de 2020, mas a participação caiu seis pontos, para 44%. Em 2019 e 2020, a divisão era meio a meio entre a baixa renda e médio e alto padrão.
Wertheim admite “uma pequena perda” para a moradia popular, ao destacar a “ressignificação dos imóveis” fora do programa habitacional. “As pessoas procuraram apartamentos maiores.” No caso do CVA, o preço do metro quadrado varia de R$ 6,5 mil a R$ 7 mil. “Acima do programa, o m² é R$ 10 mil”, avalia Petrucci. “Conforme a localização, temos lançamentos de médio e alto padrões, mesmo um dormitório ou estúdio, acima de 20 mil o m².”
A previsão do Secovi para 2022 indica redução no volume de lançamentos. “Deve ser 10% a menos em relação a 2021”, calcula Wertheim. Ele aponta dois motivos para a queda. “Não dá para manter a velocidade de crescimento que vinha ocorrendo”, analisa. “O ambiente econômico e político está deteriorado.”
(Matéria publicada em 01/07/2022)