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18/06/2024

Apesar de estímulo, problemas no mercado imobiliário da China se agravam (Valor Econômico)

Dados de maio mostram que empresas e consumidores seguem cautelosos em relação à economia chinesa

O problemático mercado imobiliário da China não está respondendo a algumas das medidas de estímulo mais audaciosas adotadas pelo país até agora – pelo menos ainda não.

 

O governo chinês vem intensificando o apoio à habitação e outros setores nos últimos meses, enquanto tenta revitalizar uma economia que continua decepcionando desde os primeiros dias da pandemia de covid-19.

 

Mas os dados de maio mostram que empresas e consumidores seguem cautelosos. Os preços das moradias continuam caindo em um ritmo acelerado e os investimentos em ativos fixos e produção industrial, embora em crescimento, perderam algum dinamismo.

“Os dados econômicos de maio sugerem que as autoridades têm muito a fazer para sustentar a frágil recuperação”, escreveu Yao Wei, economista-chefe do Société Générale para a China, em uma nota a clientes nesta segunda-feira (17).

 

O pior problema está no setor imobiliário, que vem lutando com um excesso de oferta e o fraco sentimento dos compradores desde 2021, quando um boom imobiliário de vários anos teve fim. O mercado parece não ter encontrado ainda um piso, mesmo depois que Pequim lançou, na metade de maio, suas medidas de estímulo mais agressivas até agora, na esperança de restabelecer a confiança.

 

Nas grandes cidades, os preços das novas moradias caíram 4,3% em maio, comparado ao mesmo período do ano passado, número pior que o de abril, quando houve uma queda de 3,5%, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Estatísticas da China. Os preços no mercado chinês de segunda mão caíram 7,5% comparado à queda de 6,8% em abril.

 

As vendas de moradias caíram 30,5% em termos de valor nos primeiros cinco meses deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. “Esses dados certamente são decepcionantes e poderão disparar alguns sinais de alerta, uma vez que o pacote de apoio político de maio ainda não se traduziu em um declínio mais lento dos preços das moradias, quanto mais em uma estabilização”, diz Lynn Song, economista-chefe do ING para a China.

Os economistas também esperavam ver uma recuperação mais ampla este mês, depois que Pequim iniciou uma emissão planejada de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões) em bônus soberanos de longuíssimo prazo em maio. Os recursos terão como destino ajudar no pagamento de projetos de infraestrutura imobiliária apoiados pelas autoridades. Os investidores abocanharam o primeiro lote desses bônus.

 

O conjunto dos novos dados, no entanto, demonstra como o país ainda não está a todo vapor. As vendas no varejo, uma medida importante dos gastos do consumidor, cresceram 3,7% em maio em relação ao ano passado, comparado com 2,3% em abril, segundo a Agência Nacional de Estatísticas. Embora a tendência esteja caminhando na direção certa, ela ainda se encontra em um ritmo de crescimento relativamente moderado e abaixo do que a maioria dos economistas acredita ser necessário para iniciar uma grande retomada dos gastos do consumidor.

 

A expansão na produção industrial – 5,6% em maio, comparado ao mesmo período do ano passado – foi inferior ao aumento de 6,7% de abril. O crescimento dos investimentos em ativos fixos, do qual 40% veio dos setores imobiliário e de infraestrutura, também desacelerou para 3,5% em maio, face a 3,6% em abril.

A chave para os dados fracos da atividade econômica em maio — e para as perspectivas futuras da China — é a crise no mercado imobiliário, que as autoridades vêm tendo dificuldades para resolver.

 

O pacote de maio de ajuda ao setor imobiliário incluiu permitir aos governos locais comprar moradias não vendidas, eliminando as taxas de juro mínimas sobre os financiamentos imobiliários e reduzindo os pagamentos a potenciais compradores de moradias. Também inclui, como peça central, um chamado programa de reempréstimo de US$ 41 bilhões lançado pelo Banco do Povo da China, o banco central chinês, que fornecerá financiamentos aos bancos chineses para apoiar as compras de moradias por empresas estatais.

 

A esperança é que ao intervir como comprador de última instância de milhões de propriedades, o governo consiga limpar o estoque habitacional não vendido e convencer os cautelosos compradores de moradias a retornar ao mercado. Por sua vez, os consumidores chineses, que têm a maior parte de sua riqueza ligada aos imóveis, sentiriam-se mais confiantes em voltar a gastar, estimulando assim a economia em geral.

Mas o tamanho do programa de reempréstimos não foi grande o suficiente para convencer os compradores de moradias, diz Larry Hu, economista-chefe do Macquerie Group para a China. “Enquanto isso, suas perspectivas de renda também permanecem fracas, diante da situação econômica atual”, afirma ele.

 

Para que o mercado imobiliário chegue ao fundo do poço e alcance um novo equilíbrio, as taxas de financiamento imobiliário, que estão em cerca de 3% a 4% na China, precisam ser tão baixas quanto o rendimento dos alugueis, que estão atualmente abaixo de 2% nas grandes cidades, segundo diz Zhaopeng Xing, um estrategista sênior da ANZ dedicado à China. Segundo ele, um grande corte nas taxas de financiamento imobiliário precisará ocorrer em algum momento.

Outra parte importante do esforço da China para revitalizar o crescimento gira em torno do setor industrial, com os líderes canalizando mais investimentos para as fábricas para aumentar a produção e reduzir a dependência do país dos fornecedores estrangeiros de tecnologias essenciais.

 

O resultado foi um aumento da produção. Mas com o consumo interno incapaz de absorver todos esses bens, muitas fábricas foram forçadas a reduzir os preços e buscar mais compradores no exterior.

Dados divulgados este mês mostraram que as exportações chinesas cresceram mais rapidamente em maio do que em abril.

No entanto, o esforço exportador está encontrando resistência, uma vez que governos do mundo todo temem o impacto da competição chinesa mais barata sobre mercados e indústrias internos.

 

Na semana passada, a União Europeia disse que vai impor novas tarifas de importação aos veículos elétricos chineses, descrevendo a indústria automobilística chinesa como altamente subsidiada pelo governo, ao ponto em que as montadoras de outros países não conseguem competir de forma justa.

Os EUA também aplicaram tarifas pesadas aos automóveis e outros produtos chineses, enquanto países como Brasil, Índia e Turquia abriram investigações antidumping sobre o aço, produtos químicos e outros produtos chineses.

Pequim diz que essas medidas são protecionistas e que suas indústrias competem de forma justa com os concorrentes globais.  

FONTE: VALOR ECONôMICO