As empresas têm usado a apólice do seguro de crédito como garantia de empréstimo nos bancos. A sinistralidade acima de 100% em 2015 e a alta de 42% até maio com relação a igual período do ano passado, no entanto, deixou o produto mais seletivo e conservador.
De acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), só nos cinco primeiros meses deste ano, os sinistros ocorridos superaram os prêmios de seguros de crédito em R$ 26,9 milhões, valor 10% superior.
Segundo Marcele Lemos, presidente da Coface, o mercado segurador voltado para esse segmento é impactado, principalmente, por conta da alta nos pedidos de recuperação judicial e do alto risco assumido pelas seguradoras.
"De um lado, nós cedemos o crédito para as empresas e, de outro, esses negócios estão passando por uma dificuldade muito grande em virtude da crise econômica. Assim, há um aumento de default, de inadimplência e de recuperação judicial, o que reflete direta e indiretamente o setor de seguro de crédito", identifica Lemos.
Dados da Serasa Experian apontam que o número de recuperações judiciais requeridas de janeiro a maio deste ano foi 95,1% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, sendo 57,4% pedidos de micro e pequenas empresas, 26,2% de médias e 16,4% de grandes negócios.
De acordo com a executiva da Coface, em relação ao volume de garantias, "houve um aumento de empresas que estão buscando a apólice de seguro para dar como garantia no banco", o que torna o produto uma "boa ferramenta no atual momento brasileiro".
"Há uma procura muito grande, por exemplo, para conseguir antecipar recebíveis. A companhia começou a usar a apólice do seguro de crédito como garantia de pagamento, tornando o banco como beneficiário em caso de default, o que para nós não faz diferença, já que concordamos com a contratação do seguro a partir de uma análise criteriosa da capacidade daquela empresa. Todo mundo sai ganhando", explica a presidente.
Além disso, ela ressalta que os pedidos de recuperação judicial subiram de 3 para 11 casos por mês em 2015 na companhia, o que levou a uma redução e "limpeza da carteira" em 50% do valor de 14 bilhões de euros garantidos em janeiro, além da maior restrição e seletividade na concessão do seguro.
"Foi preciso rever o nosso portfólio, reduzir e até mesmo cancelar algumas exposições, e tudo indica uma tendência a piorar. Os bancos não estão cedendo crédito, as empresas estão muito alavancadas [multiplicar rentabilidade por meio de endividamento] e é complicado, porque isso compromete muita gente", identifica Lemos.
Exportações - Outros dados da Susep apontam, no entanto, que o seguro de crédito interno, o produto voltado à exportação teve um resultado razoável em 2015, com prêmios de seguros superiores em R$ 18,3 milhões aos sinistros ocorridos.
Segundo Lemos, presidente da Coface, o setor apresentou uma busca acelerada desde 2015, e ainda é responsável por "um grande e crescente número de negócios".
"As empresas que tinham uma parcela pequena dos seus resultados advinda da exportação, estão se voltando mais para isso para compensar o mercado interno. E essa acaba sendo uma estratégia muito válida nesse momento, porque uma vez que o País está vulnerável e o real está desvalorizado, as companhias acabam tendo maior competitividade no exterior e dando margem para esse crescimento", avalia.
Para a executiva, os reflexos da crise ainda perduram até o ano que vem, deixando o mercado segurador a permanecer com preços mais altos e com critérios mais conservadores para as contratações de seguros. "À medida que os setores melhorarem, teremos espaço para crescer", conclui.