A Construtora Cury – famosa pelos projetos para baixa renda no Minha Casa Minha Vida (agora Casa Verde e Amarela) – voltará a erguer empreendimentos residenciais de classe média após uma década.
A estratégia da construtora comandada pelas famílias Cury e Horn tem o objetivo de ampliar o portfólio de produtos imobiliários e ganhar um novo público, sem ter que se expandir para outras regiões além das atuais São Paulo, Rio e Campinas. A mudança de praças foi um dos problemas que quebrou várias empresas no último boom da construção.
A iniciativa também segue os mesmos passos de rivais como MRV e Direcional, que aproveitaram a onda de financiamentos a juros baixos para atender os consumidores que, até uns anos atrás, tinham dificuldade de fazer a parcela caber no bolso.
“Queremos fazer a empresa crescer”, afirma o CEO, Fábio Cury, em entrevista exclusiva ao Broadcast. “Buscamos aumentar a nossa gama de produtos e não abrimos mão de estar nas capitais onde já estamos”, complementa.
Os novos projetos terão dois a três quartos, entre 55 e 75 metros quadrados e tíquete na faixa dos R$ 400 mil a R$ 600 mil, com financiamento por meio de linhas bancárias originadas nas poupanças (SBPE). Hoje, a companhia faz principalmente estúdios e unidades de um ou dois dormitórios, com valores em torno de R$ 250 mil, dentro do Casa Verde e Amarela, financiadas pelo FGTS.
A empresa já reserva algumas unidades de maior valor para os clientes SBPE. A diferença daqui para frente é que os próximos projetos de classe média serão do tipo “puro sangue”, isto é, inteiramente dedicados a esse perfil de consumidor.
Esses projetos devem representar em torno de 30% do total de lançamentos nos idos de 2023 ante os 15% atuais. Trata-se apenas de uma previsão, não uma meta formal, pondera Cury. O executivo reforça ainda que a construtora continuará atuando na faixa 3 do programa habitacional, onde vem concentrando sua atuação.
A retomada na classe média está prevista para ocorrer entre o fim de 2021 e o começo de 2022, com lançamento em Niterói (RJ), na Praia De Camboinhas. Serão 390 apartamentos, com valor geral de vendas (VGV) de R$ 172 milhões. O projeto está em fase de licenciamento. Agora, a companhia vai acelerar a compra de terrenos para esse novo mercado.
A Cury já vendeu apartamentos para classe média no passado, mas não fazia lançamentos nesta área desde 2012 devido à elevação dos juros do crédito imobiliário nos anos seguintes. O último foi na zona leste de São Paulo. Até 2014, a construtora centrou seus esforços na faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, mas saiu aos poucos do segmento devido ao corte de verbas federais que abasteciam essa modalidade. Aproveitando seu conhecimento em moradias de padrão econômico, foi para as faixas 2 e 3 do programa. Por fim, começou a testar algumas unidades no SBPE. “Temos a versatilidade de trabalhar onde vemos as melhores oportunidades”, argumenta o CEO.
IPO acelera crescimento da Cury
A Cury vem acelerando o crescimento desde que fez sua oferta inicial de ações em Bolsa (IPO, na sigla em inglês) no ano passado. Nesta semana, a construtora teve recorde: foram R$ 650 milhões em lançamentos no segundo trimestre (alta de 109% na comparação anual) e R$ 618 milhões em vendas (alta de 149%). Com isso, os números operacionais no primeiro semestre de 2021 já são equivalentes aos resultados do ano inteiro de 2020.
Para o segundo semestre, a ordem é continuar crescendo, conta Cury.”Vamos acelerar neste ano e tirar proveito de tudo que for possível. Já para o ano que vem, que será um ano eleitoral, estaremos mais na retaguarda, tomando cuidado e buscando entender os rumos da política”.
O presidente da construtora avalia que os consumidores reagiram rápido nas decisões de compra depois da reabertura do comércio em meio à pandemia, aproveitando os empréstimos com juros abaixo da média histórica do País.
A empresa também impulsionou os negócios com o lançamento, em abril, do primeiro projeto residencial do Porto Maravilha, nos entornos do Centro, no Rio. Todas as 470 unidades já foram vendidas. Mais dois empreendimentos no local, com 800 unidades cada, estão em fase de aprovação.
“O desempenho positivo reforça nossa visão de demanda resiliente do segmento de baixa renda, apesar das perspectivas econômicas desafiadoras no curto prazo”, descreve o analista Renan Manda, em da XP Investimentos. O analista reiterou a recomendação de compra das ações da Cury, apontada com a melhor empresa no setor de baixa renda.