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16/11/2015

Após estimular venda com promoção, construtoras têm alta nos distratos

A pressão da inflação e a dificuldade de obtenção de crédito são os principais vilões para o dado.

Paula Cristina

Após investimentos amplos em publicidade e estímulos para venda de imóveis em estoque, as construtoras - de todos os portes - têm sentindo um avanço no número de residências devolvidas. A pressão da inflação e a dificuldade de obtenção de crédito são os principais vilões para o dado.

"Houve um forte movimento de atração do consumidor. Eram propostas que facilitavam a entrada do imóvel, mas pouco se preocupavam com a condição do cliente de financiar os outros 80%", disse ao DCI o professor de macro economia e especialista em finanças pessoais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Oswaldo Saldanha.

Após a euforia da compra, e conclusão do pagamento das entradas, muitos consumidores viram o sonho da casa própria virar pesadelo: com o crédito mais caro, e mais escasso, o financiamento do imóvel ficou mais complicado entre os bancos.

Além da falta de crédito para o financiamento, com o avanço da inflação, muitas quebras de contratos aconteceram antes mesmo de finalizar a entrada do imóvel. "As vezes, a entrada chega a ser dividida em três anos. Muitas pessoas que compraram o imóvel em 2012, estão chegando perto da entrega das chaves e não estão capitalizados", completa o acadêmico.

Entre as grandes empresas da construção, a situação é alarmante: na MRV quase um terço da receita bruta da empresa foi de distratos no terceiro trimestre deste ano.

De julho a setembro, em relação às vendas de R$ 1,3 bilhão, o indicador de distratos foi de 32,2%, contra 29,8% do segundo trimestre e 21,3% de igual período de 2014.

Em valores absolutos, os cancelamentos de vendas da MRV Engenharia somaram R$ 421,5 milhões entre julho e setembro, e alta de 35,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Na Tecnisa, também houve alta dos distratos no terceiro trimestre (que atingiram R$ 171,2 milhões, avanço de 46,3% em relação ao mesmo período no ano passado). As desistências na compra do imóvel cortaram as vendas líquidas no período de R$ 306,2 milhões para R$ 134,9 milhões.

Na operação da Gafisa, as vendas líquidas chegaram a R$ 177,3 milhões e os cancelamentos de contratos foram de R$ 84,9 milhões. Já na Tenda - braço econômico da construtora -, as vendas líquidas atingiram R$ 126,6 milhões, e os distratos, R$ 66,3 milhões.

Em seu balanço operacional, a construtora afirma que "busca uma maior qualidade na análise de crédito de suas vendas, de modo a alcançar sempre um menor volume de distratos ao longo do ciclo de construção e entrega".

Na PDG o número de contratos cancelados também avançou. No terceiro trimestre foram R$ 515 milhões em distratos. No mesmo período de 2014, o volume foi R$ 195 milhões. "74% dos distratos do trimestre foram de unidades vendidas antes de 2013, quando a análise de crédito era menos criteriosa", detalhava o balanço da empresa.

Entre os motivos apresentados para o cancelamento, a empresa cita que 71% dos casos foi insuficiência de renda.

Sem revelar números exatos sobre a condição de cancelamento das vendas, a Eztec afirmou, em seu balanço operacional, que "o nível de distratos mantém-se estável em relação aos volumes lançados, mesmo em um período em que os clientes encontram maior dificuldade na obtenção do financiamento bancário".

Entre as estratégias da companhia adota para segurar o número de cancelamentos está a adaptação do imóvel a realidade financeira do cliente. "Aproximadamente R$ 25 milhões das vendas realizadas nos nove primeiros meses de 2015 correspondem a clientes que trocaram de unidade dentro da companhia", detalhava.

Pequenas e médias

Sem muito caixa para sustentar os distratos, as pequenas e médias construtoras são as que mais sentem o impacto da inadimplência. Na construtora potiguar Ser Construção, 25% dos contratos firmados nos últimos anos foram cancelados. "Estamos estudando, junto a um banco, a possibilidade de parceria para ajudar os clientes a conseguirem o crédito", disse o presidente da empresa, César Algusto Montevianni.

O executivo lembra que, quando a inadimplência se dá ainda na entrada, a situação é pior. "Nesse caso, há a devolução do imóvel, porque nenhum banco dará crédito para alguém negativado", completa.

Além da Ser, a construtora Mbigucci também enfrentou aumento no número de distratos. Sem revelar números, o diretor da empresa, Milton Bigucci Jr. diz que o prejuízo é grande. "Distratos nunca são bons, nem para o comprador, nem para a construtora. Estamos vendo caso a caso como lidar com clientes que não estão conseguindo arcar com os contratos", disse.

 

FONTE: DCI