Após sofrer um estouro de meio bilhão de reais nos orçamentos de obras no ano passado, a Tenda passou a adotar medidas amargas para equilibrar as contas. A companhia – um das maiores do programa Casa Verde e Amarela (CVA) – disparou uma carta aos fornecedores de materiais de construção avisando que os novos prazos de pagamento passarão de 30 dias para, no mínimo, 60 dias. A medida vai valer para todos os pedidos enviados e faturas recebidas a partir do mês que vem. A decisão de esticar os prazos dessa forma é incomum no setor e não tem sido uma medida adotada por outras construtoras de grande porte neste momento, pegando de surpresa os fornecedores da Tenda.
No comunicado, ao qual a Coluna teve acesso, a Tenda não dá explicações sobre a sua decisão, limitando-se a informar que a mensagem “visa (sic) uma maior transparência e efetividade no cumprimento dos prazos compromissados junto aos parceiros”. Também avisa que, em caso de dúvidas, os fornecedores devem procurar o representante da construtora responsável pelas compras. O documento é assinado pelo diretor Financeiro, Marcos Antônio Pinheiro Filho. Procurada, a Tenda não se manifestou.
Inflação afetou custos de todo o setor de construção
Na sua última apresentação de resultados a investidores, a Tenda relatou perdas de R$ 350 milhões com estouros de orçamento no quarto trimestre de 2021 e um total de R$ 532 milhões no acumulado do ano. Isso ocorreu devido à disparada nos preços de materiais no mercado combinada com a falta de um controle periódico da empresa sobre os custos de boa parte dos insumos.
A inflação arranhou a rentabilidade de várias empresas do setor de construção nos últimos trimestres, mas nada que se compare ao rombo da Tenda. A empresa prometeu a investidores que fará um controle mais rígido dos orçamentos e que vai privilegiar empreendimentos com preços e margens de lucro maiores neste ano, ainda que isso implique em diminuir a velocidade de vendas e o volume total de lançamentos.
Matéria publicada em 22/04/2022