Sem dispor dos recursos fartos oferecidos até 2014 pelas cadernetas de poupança, cujos saques alcançaram R$ 51,1 bilhões entre janeiro e setembro, nem da demanda de obras públicas e de empresas estatais, o setor da construção civil aprofunda o ajuste, reduzindo o pessoal às vésperas de mais um ano de incertezas. Os levantamentos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicam que tanto a situação atual do segmento quanto as expectativas para os próximos meses são as piores das séries históricas dos indicadores.
O Índice de Confiança da Construção (ICST), da FGV-Ibre, caiu 3,9% entre setembro e outubro, com ajuste sazonal, e 34% entre outubro de 2014 e outubro de 2015, sem ajuste sazonal. Numa escala de zero a 200 pontos, o ICST registrou apenas 63,4 pontos, num levantamento feito com 723 empresas entre 1.º e 23 de outubro.
A situação atual das companhias mereceu apenas 45,3 pontos e o índice de expectativas foi mais alto (81,5 pontos), abaixo da média de 100 pontos, mas indicando que as empresas alimentam alguma esperança quanto ao futuro, levando em conta que 2016 será um ano eleitoral.
A coordenadora do ICST, Ana Maria Castelo, é pessimista, enfatizando que faltam demanda e crédito para uma retomada, num ambiente de inflação e de juros elevados.
A Sondagem Indústria da Construção, da CNI, registrou um índice de expectativa de nível de atividade de apenas 37,7 pontos em outubro, muito abaixo da linha de equilíbrio de 50 pontos. A expectativa de número de empregados é de 35,7 pontos, confirmando informações de outras fontes, como o Ministério do Trabalho, mostrando que 427 mil vagas formais foram suprimidas nos últimos 12 meses até setembro, mês em que os cortes atingiram 28 mil vagas.
Com expectativas tão limitadas, a intenção de investimento em outubro foi de apenas 25,2 pontos, com queda de 17,8 pontos em relação a outubro de 2014. O menor índice por qualquer classificação foi o relativo a obras de infraestrutura, com 23,1 pontos.
O aumento dos preços máximos dos imóveis enquadrados no programa de habitação social Minha Casa, Minha Vida para famílias com renda mensal entre R$ 2,35 mil e R$ 6,5 mil é um dos únicos fatores de alento dos construtores, mesmo que sejam conhecidas as dificuldades financeiras do governo e a previsão de que as verbas virão a conta-gotas.