Notícias

25/08/2023

Aprovação da reforma tributária seria um ‘gol de placa’, diz Vescovi

"Não é a reforma dos sonhos, mas, mesmo assim, significa um avanço muito significativo, como se saíssemos da Idade Média para uma era mais avançada", diz a economista-chefe do Santander

A aprovação da reforma tributária seria um "gol de placa", afirmou a economista-chefe do Santander e ex-secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, durante o Abecip Summit, em São Paulo. "Não é a reforma dos sonhos, mas, mesmo assim, significa um avanço muito significativo, como se saíssemos da Idade Média para uma era mais avançada", acrescentou.

Na visão da economista, "poderemos exergar os nossos problemas tributários de forma mais fácil, o Brasil vai ter uma compreensão melhor da questão setorial, regional e do que é o sistema tributário brasileiro".

Sobre o ciclo de corte de juros iniciado pelo Banco Central, a economista apontou que o cenário do banco prevê uma Selic de 11,75% no fim de 2023 e de 10%, para 2024.

O nível ainda de dois dígitos, na visão do Santander, reflete "a existência de incertezas globais importantes". Vescovi explicou que houve um aperto monetário sincronizado no mundo, ainda que não seja um movimento coordenado. Há ainda "um pouco de frustração sobre o crescimento da China afetando o Brasil".

No ano que vem, explica a economista, "há uma dúvida sobre a condição de sustentação de vagas por trabalhadores que procuram emprego nos Estados Unidos".

A China também, disse a especialista, deve ter um crescimento em torno de 5% neste ano, considerando uma base de comparação mais fraca em 2022. "A China e o crescimento global são variáveis que vão cada vez pesar mais sobre o que vai acontecer aqui dentro no Brasil. Nossos mercados não estão refletindo esse cenário externo [mais difícil]. Houve uma reação mais ao cenário interno, devido às incertezas fiscais."

Para Vescovi, nos EUA "não estamos vendo recessão, mas ocorre uma desaceleração econômica". A economista explicou que a China parece não ter mais instrumentos para reativar a economia. O setor imobiliário é muito importante para a economia chinesa e parece que haver um esgotamento no crédito imobiliário e um risco muito grande. Além disso, o consumo não tem muito espaço para ser estimulado, com as taxas de juros já baixas."

De acordo com Vescovi, a Selic nominal neutra pode girar em torno de 9% ao ano. "A taxa terminal deve ser neutra, ou seja, nem estimulativa nem contracionista, e pode estar mais perto de 9%. A taxa de juros real neutra da economia não é uma variável observável, mas está muito relacionada à condução da política fiscal. Então nós temos um cenário em que podemos entrar já na área estimulativa em 2025 até por conta do ciclo de gestão pública é isso é uma preocupação."

Segundo a economista, "quando a gente entra no debate sobre juros no Brasil, porque os juros são elevados, é porque nós temos um setor público muito 'despoupador'". Conforme a especialista, "a poupança agregada da economia brasileira é muito baixa e a questão fiscal é uma condição a princípio para a gente ter nível de juros estruturalmente menores".

FONTE: VALOR ECONôMICO