Comenta-se à exaustão os impactos econômicos — além dos físicos e pessoais — que a Covid-19 trouxe para diversos setores da economia brasileira. A obrigação de nos mantermos isolados durante meses provocou o surgimento de demandas por parte do consumidor que eram esperadas somente para as próximas décadas e, quiçá, algumas antigas, que provavelmente não voltariam ao centro das atenções tão cedo.
No setor imobiliário, o senso de oportunidade para resolver solicitações antigas levou famílias a botarem em prática planos e vontades do passado, especialmente a compra de residências novas e prontas. Nesse cenário, agora existe uma exigência por espaços alternativos de convivência, que podem se tornar estruturas para home office e para as brincadeiras das crianças.
O resultado já é sentido pelo setor. O Secovi-SP divulgou em agosto uma pesquisa que mostra aumento de 45,5% na venda de imóveis novos em comparação com o mês anterior. A lógica é que casas e apartamentos recém-lançados permitem que os cômodos sejam adaptados as novas necessidade.
Nos últimos 12 meses, foram vendidas 47.237 unidades, alta de 19,3% ante o mesmo período entre 2018 e 2019. Vejo estes resultados sendo puxados pela mudança de comportamento desenvolvida durante a fase mais árdua da pandemia.
Ouvi de muitos clientes que ficar um período isolado em casa os levou a questionar o motivos de adiar mudanças nos mais diferentes aspectos da vida, inclusive com imóveis.
Surgiram dúvidas como: por que meu apartamento parece tão pequeno agora? Por que não pensei em um espaço para home office antes?
Mas a principal pergunta que ficou na cabeça das pessoas foi: qual o motivo para adiar o desejo de prover um lar melhor para minha família? Como consequência, o mercado viu uma ampla procura por espaços de convivências, nos quas as crianças possam estar e os adultos possam trabalhar e passar mais tempo com qualidade e conforto.
Nos últimos dois meses, a exigência por locais como estes se tornou um ponto fundamental para o consumidor. Percebi que, neste momento, há um foco em qualidade de vida que o imóvel, mais do que outros produtos e serviços, pode, por ora, oferecer. A pandemia trouxe essa necessidade para o topo da lista dos habitantes das cidades.
O que era pequeno e moderno, se tornou apenas apertado, e o afastado e desnecessário agora é justamente o espaço que a família precisa. Em outras palavras: os imóveis de veraneio se tornaram o novo refúgio das famílias. A adaptação do ambiente corporativo ao isolamento social propiciou esta mudança de comportamento também, mesmo entre os serviços em que alguma atividade presencial seja exigida.
Transformação no comportamento das pessoas gera impacto nas cadeias imobiliárias. O consultor imobiliário é o primeiro a enxergar essa demanda, repassada às incorporadoras e sentida por todos envolvidos. Novos projetos são solicitados e, por conta da necessidade de entregar ao consumidor o que ele deseja, vemos muitos imóveis
acrescentando áreas comuns para toda a família. Não falo aqui de áreas comuns sociais, e sim das unidades, dentro dos apartamentos.
É claro que não são mudanças baratas. Cada inserção de estruturas significa alguns milhares, até milhões de reais investidos. Custo que é repassado para o comprador, o que irá alavancar o preço do metro quadrado no futuro próximo.
Mas este não será o único motivo.
O fato é que a necessidade de prover aos familiares um melhor espaço para seu desenvolvimento ganhou relevância. Pais, desejosos de fornecer ambientes propícios para os filhos brincarem e conviverem com a família, estão dispostos a se mudarem para que isso seja possível. E este é um cenário que só tende a se intensificar nos próximos meses