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02/12/2018

Bairros com mais árvores em praças e ruas são os mais valorizados da capital

Os bairros de São Paulo que possuem mais árvores em ruas e praças são aqueles com maior preço médio do metro quadrado em novos empreendimentos, aponta estudo do Grupo ZAP, portal de imóveis

Os bairros de São Paulo que possuem mais árvores em ruas e praças são aqueles com maior preço médio do metro quadrado em novos empreendimentos, aponta estudo do Grupo ZAP, portal de imóveis.

A lista das regiões mais verdes da cidade é liderada pelo Alto da Boa Vista, na zona sul, com 15 árvores plantadas a cada 100 metros de via. A média de São Paulo é de quatro plantas por trecho. Em seguida vêm o Alto de Pinheiros, na zona oeste, com 12 árvores, e os Jardins, na zona sul, com 11.

E esses bairros estão entre os que têm o preço médio do metro quadrado mais alto da cidade. Nos Jardins, um novo empreendimento sai por cerca de R$ 12,6 mil por metro quadrado, enquanto no Alto da Boa Vista o valor chega a R$ 8.900 e, no Alto de Pinheiros, a R$ 10,9 mil.

"A localização é o fator mais importante para determinar o preço de um empreendimento, pesa mais que as próprias condições do imóvel", afirma Sergio Castelani, economista do Grupo ZAP.

Segundo Castelani, regiões com calçadas largas, vias arborizadas, acesso a transporte público e próximas aos centros de trabalho são as mais procuradas.

O economista compara, guardadas as devidas proporções, São Paulo a Nova York, onde as avenidas que fazem limite com o Central Park oferecem os apartamentos mais caros da cidade.

Castelani cita como exemplo a avenida Quarto Centenário, em frente ao portão 6 do parque Ibirapuera, na Vila Nova Conceição, onde o valor do metro quadrado é de em média R$ 20 mil.

"Em uma cidade cinza como São Paulo, morar ao lado de uma grande área verde é um luxo. O parque faz as vezes da praia do paulistano", diz ele.

No outro lado do ranking de arborização, estão bairros como Tucuruvi, na zona norte, e Brás, no centro, com uma média de três árvores. O pior colocado, na 111º posição, é a Sé, com apenas uma árvore a cada cem metros de rua.                     

Nessas três regiões, o valor médio do metro quadrado de novos empreendimentos fica entre R$ 6.500 e R$ 7.200, quase metade do preço dos bairros mais arborizados.

As quatro árvores a cada 100 metros de via pública fazem São Paulo ficar muito aquém do índice recomendado. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2017 havia 14,1 m² de área verde para cada habitante. O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde, seriam 36 m² per capita.

As árvores funcionam como grandes filtros, que retêm a poeira, contribuem para equilibrar a temperatura e evitam a erosão e enchentes, comuns em locais com pouca área permeável.

O economista Raoni Costa, 34, é um dos paulistanos que valorizam o entorno ao escolher onde viver. Ele faz questão de morar em bairros tranquilos e cercados de verde. "Nunca me mudaria para o centro da cidade, por mais infraestrutura que a região forneça", diz.

Atualmente ele mora no Brooklin Novo, próximo à Sociedade Hípica São Paulo. Para trabalhar usa bicicleta compartilhada ou ônibus.

Não à toa, são cada vez mais comuns os prédios que incluem projetos paisagísticos não apenas nas áreas comuns, como as calçadas.

Com mais de 56 construções lançadas nas zonas oeste e sul, as duas mais arborizadas da cidade, a incorporadora You escolheu o Alto da Boa Vista para lançar o empreendimento homônimo.

Os apartamentos da torre de 20 andares têm 51 m² ou 54 m². O preço fica em torno de R$ 10 mil por m². O projeto paisagístico inclui áreas verdes em volta da piscina e na frente do prédio, além de grama no playground para aumentar a área permeável.

"O bairro é bastante residencial, composto principalmente por casas de alto padrão", descreve Rafael Mentor, diretor comercial da You, que tem a cerca de um quilômetro dali um segundo empreendimento semelhante, o You Now Chácara Santo Antônio.

"Escolhemos a região porque vem se desenvolvendo muito. Além de ser arborizada, agora com a chegada do metrô o interesse pela área aumentou", diz Mentor.

Os bairros mais arborizados de São Paulo são aqueles planejados no século 20 pela inglesa Cia. City, empresa fundada em 1912 com um conceito inglês de urbanização, que prezava justamente as áreas verdes e calçadas amplas.

A empresa implantou os Jardins e o Alto de Pinheiros, por exemplo, dois pontos da capital com lotes grandes e ruas e praças arborizadas.

"Nesse caso, o verde faz parte do plano de urbanização, que se preocupa em criar espaço público agradável. A maioria dos bairros paulistanos teve um desenvolvimento desordenado e com muita devastação ambiental", afirma Alberto Ajzental, professor da FGV especializado em mercado imobiliário.

Para Ajzental, criar bairros arborizados, organizados, e com boa infraestrutura tem um impacto muito maior no desenvolvimento urbano da cidade do que construir moradias populares.

"O terreno custa 20% do valor do imóvel. O governo deveria levantar bairros dignos e doar o terreno para a população construir", afirma o professor da FGV.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO