Após despesas bilionárias para fazer frente ao calote da Sete Brasil no começo do ano, o pedido de recuperação judicial da operadora de telefonia Oi fará com que os bancos voltem a reforçar suas reservas para créditos de má-qualidade. O impacto da Oi entre os maiores bancos listados em bolsa deve se concentrar no Banco do Brasil (BB), que é credor de R$ 4,304 bilhões, a maior entre as instituições financeiras do país, de acordo com dados do quadro de credores da empresa.
Segundo o Valor apurou, a exposição do BB à empresa se divide em R$ 2,4 bilhões em crédito bancário tradicional, R$ 1,6 bilhão em debêntures e R$ 300 milhões em "bonds" da empresa que o banco mantém em sua tesouraria. Essa divisão é importante, pois ajuda a determinar quanto de provisão o banco terá que fazer para o caso.
De acordo com interlocutores a par da situação do banco, para os R$ 2,4 bilhão em crédito tradicional, o BB contava com apenas 3% de provisão antes do anúncio do pedido de recuperação pela Oi (na escala do Banco Central, o crédito era classificado como letra "C"). Agora, com a recuperação formalizada, essa provisão saltaria para 30% (letra "E"), de acordo com fonte familiarizada com as regras internas do banco.
Nas contas de analistas, esse cenário traria um impacto potencial de cerca de R$ 600 milhões em despesas de provisão, bruto de impostos, no trimestre. Ao longo do ano, porém, o banco pode voltar a fazer provisões para o caso, conforme o processo de recuperação judicial da Oi progredir. De acordo com uma fonte, uma vez que a recuperação seja homologada, a exigência de provisão pode subir a 70%, obrigando o banco a fazer novos gastos. Procurado, o BB não comenta devido a questões de sigilo bancário.
O Itaú Unibanco tem R$ 1,36 bilhões em dívidas da Oi, mas com características totalmente distintas das do BB. A dívida do banco privado está na forma de Certificado de Recebíveis Imobiliário (CRI), o que muda a forma como ela é tratada pela instituição financeira. O Itaú não comentou a informação.
De acordo com um relatório do Goldman Sachs, o Itaú teria sugerido que tais CRIs estão registrados no balanço do banco como "mantidos até o vencimento" ou "disponíveis para venda". Ou seja, mesmo que a dívida de CRI tenha algum desconto no processo de reestruturação, o lucro líquido do banco não deve ter impacto, apenas o patrimônio. Caso esses papéis estivessem classificados como "para negociação", o banco teria de registrar as perdas na demonstração de resultado.
Já o Bradesco aparece com uma pequena exposição à tele, com apenas R$ 31 milhões, segundo o Credit Suisse. Nas contas dos analistas, porém, a exposição do banco da Cidade de Deus é provavelmente maior, podendo chegar a R$ 1,9 bilhão. Isso porque quatro bancos, que não foram identificados, se comprometeram a disponibilizar R$ 2,4 bilhões em dinheiro novo para a companhia telefônica no ano passado. Em março, essas linhas ainda não tinham sido sacadas.
O volume modesto de provisões para a Oi antes do pedido de recuperação judicial foi um dos principais temas de discussão entre analistas e representantes de bancos ontem. Há semelhanças com o que ocorreu na Sete Brasil, em que as provisões dos bancos para a empresa antes do pedido de recuperação ficavam próximas de 10%.
As críticas são que, em ambos os casos, os problemas pelos quais as duas empresas passavam justificariam que os bancos tivessem feito mais provisões de partida. "No caso da Oi, havia uma distorção enorme entre o preço dos 'bonds' da companhia e a avaliação de risco dos bancos", diz um analista de um banco nacional.
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, disse ontem, em evento, que os bancos brasileiros estão bem provisionados e têm grande margem para absorver choques. A afirmação foi feita quando questionado por jornalistas sobre o impacto, para as instituições financeiras, do pedido de recuperação judicial da Oi. Portugal ressaltou que não comentaria casos específicos, mas reforçou que os bancos têm feito provisões de forma dinâmica conforme necessário.