A onda de responsabilidade social no mundo empresarial ganhou um reforço: bancos representando mais de um terço dos ativos mundiais se comprometeram a seguir as metas de desenvolvimento sustentável e combate à mudança climática das Nações Unidas (ONU) e do Acordo de Paris. Itaú Unibanco e Bradesco representam o Brasil no esforço que a ONU afirma ser o mecanismo mais importante já criado em conjunto por ela e o setor financeiro mundial.
Quarenta CEOs de 130 bancos com US$ 47 trilhões em ativos se comprometeram com os Princípios de Responsabilidade Bancária, determinados por eles e pela Iniciativa de Finanças do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep FI). “Nosso sucesso e capacidade de seguir lucrativos e relevantes é intrinsicamente dependente da prosperidade de longo prazo das sociedades que servimos”, afirmou o comunicado conjunto dos signatários.
Como parte do acordo, os bancos se comprometem a divulgar os impactos positivos e negativos dos seus negócios no ambiente e apresentar soluções para os problemas. O objetivo implícito é diminuir gradualmente o investimento em combustíveis fósseis e convencer seus clientes e tomadores a colocar a natureza e a sociedade em primeiro lugar.
São seis princípios: alinhamento da estratégia de negócios com as necessidades dos indivíduos e da sociedade, das metas de desenvolvimento sustentável e do Acordo de Paris; aumentar o impacto positivo e reduzir o negativo no meio ambiente de suas atividades; incentivar clientes e tomadores a adotar práticas sustentáveis de longo prazo; trabalhar proativamente com os “stakeholders” para alcançar objetivos sociais; aplicar os princípios por meio de boa governança e responsabilidade social e reavaliar periodicamente o andamento dos mesmos, e ser transparente sobre os impactos positivos e negativos das suas atividades.
Segundo o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, “quando um banco alinha seus objetivos a estas linhas gerais, e da sociedade, o mundo só tem a ganhar. Criem novos modelos de negócio que permitam essa mudança”. O diretor do Unep FI, Eric Usher, ressaltou a necessidade de não ficar só no discurso e realmente partir pra ação. “Não basta mais comprar alguns títulos verdes e anunciar seu compromisso. É preciso fazer mais” disse.
O CEO do Itaú Unibanco, Candido Bracher, disse ao Valor que o banco se juntou à iniciativa porque sentiu a responsabilidade e a oportunidade de estimular o desenvolvimento sustentável. Ele afirma que o Itaú pode contribuir fortemente com as metas de desenvolvimento sustentável da ONU e está se preparando com prazos, patrocinadores e esforços de governança para acompanhar seu andamento. “Temos orgulho em poder participar desta coalização global de bancos para a construção de um futuro melhor e mais sustentável”, disse.
Bracher afirmou que acionistas, colaboradores, fornecedores e outras pessoas com interesses no banco já vêm demandando mais sustentabilidade, bem como a sociedade em geral, com consequências nas decisões de consumo e relacionamento com as empresas. “Esse movimento global de empresas se posicionando em relação às questões socioambientais reflete essa realidade. É preciso estar em sintonia com esse novo momento e isso exige que as empresas também se posicionem e, mais do que isso, que de fato adotem compromissos e práticas sustentáveis”.
Embora admita que sempre houve demandas por responsabilidade empresarial, Bracher disse que a diferença desta vez é o nível de engajamento da sociedade como um tudo, inclusive com o setor privado percebendo isso e falando e atuando mais a respeito. “Não se trata mais, portanto, de uma preocupação de grupos específicos”.
O presidente do conselho do banco holandês ING, Ralph Hamers, lembrou que “somos poderosos, mas também somos cidadãos corporativos, e por isso é nosso dever buscar estes princípios”. O executivo do ING acredita que um dos principais modos de garantir isso é tentar levar as metas de sustentabilidade para os tomadores.
A diretora executiva do Unep, Inger Andersen, alertou que a mudança climática pode se tornar o maior fracasso de mercado da história. “Se não cuidarmos da natureza, a natureza manda a conta. E essa conta chega em secas, incêndios, enchentes” que acabam prejudicando o desenvolvimento econômico e os negócios dos bancos. Por outro lado, ela notou que a energia renovável está se tornando cada vez mais presente. “Podemos desacelerar a mudança climática, criar empregos sustentáveis, proteger as nossas comunidades”, disse ela. “Seus clientes estão contando com vocês, a juventude da cúpula dos jovens pelo clima está contando com vocês, seu planeta está contando com vocês.”