Vinícius Pinheiro e Felipe Marques
Diante da piora da economia e da tendência de aumento da inadimplência, os maiores bancos brasileiros de capital aberto reforçaram a reserva de recursos contra calotes em R$ 17,2 bilhões entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, um aumento de 18%. O valor supera a soma do lucro líquido de Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, que foi de R$ 14,4 bilhões, alta de 14,3% na comparação com o período de julho a setembro do ano passado.
Boa parte dos recursos para constituir tal colchão veio do efeito contábil positivo que o aumento da alíquota da CSLL teve sobre o estoque de créditos tributários que os bancos carregam nos balanços. Por isso, o resultado das instituições praticamente não foi afetado pelo aumento das provisões, que chega a R$ 24,9 bilhões nos últimos 12 meses.
Com o aumento na proteção contra calotes, as grandes instituições passaram a ter ao redor de R$ 2 em reservas para cada R$ 1 em crédito com atraso há mais de 90 dias. O reforço ocorreu na provisão complementar, aquela que excede o mínimo exigido pelo Banco Central, e poderá ser reduzida em uma eventual melhora no cenário econômico.
O aumento no desemprego e a piora nos resultados das empresas já mostram algum efeito sobre os índices de inadimplência dos bancos, e a mensagem dada por executivos das instituições é que a situação deve piorar mais. O Itaú, por exemplo, espera que o pico dos atrasos ocorra apenas entre o fim de 2016 e o início de 2017. Contribuiu para que a expansão de calotes fosse mais comedida o aumento das renegociações de créditos.
Já o Bradesco projeta que o pior momento para os calotes ocorra no segundo semestre do ano que vem. Ainda assim, a alta deve ser "gradual", de 0,1 ponto percentual por trimestre, segundo o diretor de relações com investidores do banco, Luiz Carlos Angelotti. O executivo afirmou que o incremento das provisões dá ao banco um "conforto" ao navegar em um cenário de retração econômica. O Banco do Brasil preferiu não projetar quando espera que a inadimplência chegue ao teto.
O terceiro trimestre também mostrou um cenário de inadimplência indo além das empresas, que concentraram a deterioração em períodos anteriores, e chegando às pessoas físicas. O caso que mais chamou atenção foi o do Itaú, em que houve uma piora de 0,5 ponto percentual no indicador na comparação com o segundo trimestre, para 5,1%, acima até do que o próprio banco esperava. No Bradesco, o calote aumentou de 4,96% para 5,18% na mesma base.
Não que as empresas tenham deixado de preocupar. No fim de junho, a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) das companhias brasileiras era de 3,1 vezes, o maior nível histórico, de acordo com cálculos do Credit Suisse. Com a alta do dólar e a queda nos resultados, esse índice deve subir ainda mais neste fim de ano e seguir pressionando os resultados dos bancos. Já no terceiro trimestre, a inadimplência pessoa jurídica do BB piorou.
A forte desvalorização do real no terceiro trimestre, que chegou a bater a máxima de R$ 4,195 no período, também reverberou nos balanços dos grandes bancos. Foi só graças a ela que as instituições conseguiram sustentar algum ritmo de crescimento em suas operações de crédito no período, pelo efeito sobre os empréstimos contratados em moeda estrangeira. Em termos reais e sem considerar a desvalorização do real, o saldo da carteira de empréstimos registraria retração.
O saldo da carteira de empréstimos dos bancos apresentou um incremento de 10,2% nos últimos 12 meses encerrados em setembro e de 3,4% em relação ao fim de junho deste ano, encerrando o período em R$ 1,83 trilhão. A cifra não considera avais e fianças. A média do sistema financeiro, de acordo com o Banco Central, foi um crescimento de 9,1% em 12 meses e de 1,9% no trimestre.
A volatilidade do câmbio também foi uma variável importante para os resultados de tesouraria dos bancos, que já se beneficiavam da alta da taxa básica de juros. O Itaú foi o principal destaque ao obter um ganho de R$ 2,3 bilhões, mais que o dobro na comparação com o mesmo trimestre do ano passado - o que levou o lucro do banco a ficar acima do que esperavam analistas. O resultado dessa linha, porém, não deve se repetir nos próximos trimestres, segundo Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do banco.
Por fim, o efeito cambial se fez sentir no índice de Basileia, que limita a possibilidade de emprestar dos bancos, reduzindo-os em alguns casos ao aumentar o volume de ativos ponderados pelo risco - componente que determina o cálculo do indicador. O Bradesco foi o principal impactado, com o índice recuando de 16% no segundo trimestre para 14,5% no terceiro.
Apesar do momento econômico ruim, Itaú e Bradesco conseguiram manter retorno sobre o patrimônio acima de 20% no terceiro trimestre. O Santander vem em recuperação, mas segue bem abaixo dos principais concorrentes - em 12,8%. Já o BB registrou queda no indicador e encerrou o terceiro trimestre com rentabilidade ajustada sobre o patrimônio de 13,3%, abaixo da taxa básica de juros (Selic), que está em 14,25%.
O cenário de recessão econômica que se estenderá pelo menos até 2016 deve deixar marcas no balanço dos bancos, segundo analistas. Na semana passada, o BTG Pactual decidiu reduzir a projeção os resultados das instituições em 12% para o ano que vem e em 11% em 2017. Credit Suisse e Goldman Sachs também preveem queda nos resultados das instituições financeiras no ano que vem, na comparação com o desempenho de 2015.