Pedro Garcia
O lucro líquido dos maiores bancos brasileiros, que iniciam a temporada de balanços nesta semana, deve aumentar em 2015, na comparação com 2014, porém o crescimento deve vir acompanhado de avanços da inadimplência, apontam especialistas.
Mesmo diante da crise econômica vivida pelo País e das dificuldades com crédito, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander renovaram resultados recordes ao longo do ano passado, puxados pelas receitas com tesouraria e serviços.
A maior alta no lucro veio do BB, que viu o resultado líquido aumentar 43,5% até o terceiro trimestre, em relação a igual etapa de 2014, impulsionado pela parceria com a credenciadora Cielo, firmada no primeiro trimestre. No mesmo período, Itaú viu o lucro crescer 20%, Bradesco, 18,6%, e Santander, 15,9%.
Segundo Sérgio Bessa, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), os bancos estão capitalizados (com recursos em caixa), mas não estão emprestando por falta de demanda e por estarem mais cautelosos - devido ao cenário econômico, que indica aumento dos calotes.
"A falta de tomador e a maior restritividade fazem com que as instituições apliquem seu dinheiro em títulos públicos e em operações interbancárias", afirmou.
No quarto trimestre, o lucro dos grandes bancos deve continuar a crescer, embora mais marginalmente, refletindo o maior conservadorismo das instituições, avalia o professor da FGV.
Além do avanço nos ganhos com tesouraria, os gigantes do mercado financeiro também ampliaram as receitas com serviços e tarifas. "Os bancos majoraram as tarifas neste ano, inclusive de pessoas jurídicas. Também passaram a cobrar taxas em serviços que antes eram prestados gratuitamente", apontou Nelson de Souza, economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
Apesar de as instituições financeiras terem desviado o foco do crédito, por conta do momento econômico, os especialistas estimam que as carteiras de empréstimos dos bancos devem continuar a crescer, mesmo que em menor proporção. "É possível que se tenha um crescimento nominal nas linhas mais seguras [como crédito consignado e financiamento imobiliário]", comentou Bessa.
Inadimplência - Embora estejam mantendo a lucratividade, as instituições financeiras estão sentido um avanço da inadimplência, puxada pelo desemprego e a inflação, no caso das famílias, e pela queda da atividade econômica (especialmente nos setores de construção e óleo e gás) e as investigações da Lava Jato, no caso das empresas.
De acordo com Souza, é provável que os bancos ainda aumentem as provisões para perdas (PDD) no quarto trimestre, aumentando os já elevados gastos com PDD em 2015. "As instituições estão preferindo dar fôlego para as construtoras e as empresas em dificuldade, para tentar receber alguma coisa no futuro, do que baixar o crédito para prejuízo", analisou o economista.
O boletim de crédito do Banco Central, que consolida as informações de todos os bancos e financeiras do País, aponta que a inadimplência do mercado passou de 4,5% em novembro de 2014 para 5,2% em novembro de 2015.
Considerando a base de empréstimos de R$ 1,61 trilhão do mês, o percentual mostra que pelo menos R$ 83,9 bilhões de empréstimos estão com parcelas atrasadas.
Para Bessa, da FGV, o avanço do crédito e, consequentemente, da inadimplência, vai depender das sinalizações do governo. "Mesmo o tomador não estão confiante e pegar empréstimos", avaliou.
Souza, do Ibmec, afirmou que os calotes devem ficar próximo ao patamar em que se encontra, nos próximos meses, sendo passível de um "ligeiro aumento" no balanço de 2015.