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31/10/2016

Bancos estaduais projetam 2º semestre mais conservador

No Banestes, o recuo foi de 1,8% na mesma base de comparação.

O foco em empréstimos de menor risco minimizou os impactos da crise, mas não impediu desacelerações nos lucros dos bancos estaduais do País. Com resultados abaixo do previsto, expectativa do segundo semestre é de restrição de crédito e controle de custos.

Conforme antecipado pelo DCI em 19 de abril deste ano, os dois maiores bancos estaduais comerciais do País, o Banrisul, do Rio Grande do Sul (RS), e o Banestes, do Espírito Santo (ES), miraram o financiamento imobiliário e o consignado no primeiro semestre como auxílio ao gerenciamento de risco.

O reflexo, no entanto, não foi suficiente para manter o crescimento das carteiras de crédito. No caso do Banrisul, os empréstimos caíram 4,2% (de R$ 31,09 milhões para R$ 29,79 milhões) já no segundo trimestre de 2016, em relação a iguais três meses do ano passado. No Banestes, o recuo foi de 1,8% na mesma base de comparação.

"No crédito, quem puxa provisões e inadimplência para cima é o segmento corporativo. Por isso, há um esforço maior para uma evolução mais significativa em tarifas", afirmou Ricardo Higel, diretor financeiro do Banrisul, no RS.

"Nós conseguimos compensar parte da receita que não se materializou no crédito com operações de tesouraria e, de um modo geral, no controle dos custos operacionais", identifica Guilherme Dias, presidente do Banestes.

Apesar dos esforços, no entanto, a desaceleração nos resultados foi visível.

Em relação ao Banestes, o aumento de 6,1% no lucro líquido do segundo trimestre deste ano comparado ao do ano passado (de R$ 43,59 milhões para R$ 46,29 milhões) foi 11,2 pontos percentuais menor do que o observado na comparação entre igual período de 2015 e 2014 (lucro de R$ 37,15 milhões no trimestre), quando a alta foi de 17,3%.

No Banrisul, a diferença foi de 24,1 pontos percentuais na mesma comparação. Os lucros foram de R$ 150,11 milhões no segundo trimestre de 2014, R$ 192,89 milhões em 2015 e R$ 201,54 milhões neste ano.

"O primeiro semestre foi de redução da nossa exposição e migração, dentro da carteira, para créditos de menor risco. A maior restrição e atuação na tesouraria também aconteceram e vão continuar no segundo semestre", prevê o diretor do banco gaúcho.

Especificamente sobre a crise fiscal dos estados, passadas principalmente pelo Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, Higel afirma que o Banrisul tem 43% das suas ações fora do comando do estado e, por isso, não teve seu balanço afetado.

"A racionalidade do processo foi bem entendida e nenhum acionista ficou contra o valor pago [de R$ 1,2 bilhão aos servidores]", completa.

Guidance - Mesmo com a diminuição de 1,8% no crédito, o Banestes manteve o guidance para este ano inalterado. As previsões são de alta de 4% a 8% na carteira ampliada e de 4,8% a 5,2% nas despesas com provisões (estavam em R$ 94,4 milhões no segundo trimestre).

"Claro que depende da economia, mas já estamos imaginando um final de ano melhor do que o final do ano passado", opina Guilherme Dias, presidente do banco capixaba.

O Banrisul, porém, diminuiu a perspectiva de crescimento até 4%, para uma queda de até 4% e manteve expectativa de provisões entre 3,5% e 4,5% (R$ 309 milhões no trimestre).

"Nada na economia real mudou a ponto de nos permitir dizer que o segundo semestre será melhor do que o primeiro. Mesmo com as expectativas melhores isso só vai se concretizar no ano que vem", comenta Higel, do Banrisul.

Para Hélio Corazza, analista do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), no entanto, as probabilidades do sistema financeiro pesam mais para as previsões do banco gaúcho.

"A economia ainda está muito restritiva para esse setor. Os sinais de recuperação ainda estão muito fracos, e a engrenagem só começa a rodar no primeiro semestre do ano que vem", conclui o especialista.

FONTE: DCI