Isabela Bolzani
O crédito imobiliário será a principal aposta dos bancos estaduais para este ano. A expansão nas carteiras de cartões e seguros, também terão frente na tentativa de manter as receitas das instituições, principalmente neste momento de incertezas.
Para os dois maiores bancos estaduais comerciais do País, o Banrisul, do Rio Grande do Sul (RS), e o Banestes, do Espírito Santo (ES), o crédito imobiliário já se destaca desde o ano passado.
No caso do Banrisul, o aumento da carteira foi equivalente a R$ 549 milhões (16,7%) em 2015 na comparativa com 2014. O número é superior ao crescimento projetado, entre 9% e 13%, para o ano passado. Já o Banestes, por sua vez, obteve uma alta de 65,1% no volume total da carteira em relação a 2014, e também superou a meta do ano em quase R$ 15 milhões.
Segundo Guilherme Dias, diretor-presidente do Banestes, a aposta nesse financiamento se deve à baixa de concentração de risco no mercado, o que facilita o gerenciamento da instituição.
"Estamos recuperando a parcela de mercado que o banco já teve no passado, após ter ficado cerca de 20 anos fora do financiamento de imóveis, até 2012. Assim, o que nos favorece é a base de clientes com baixo índice de concentração na carteira de crédito, e a presença bem distribuída em diversos segmentos da economia. Isto tudo auxilia a gestão de risco", afirma.
O aumento de riscos e a alta na inadimplência, no entanto, tem sido empecilho para uma concessão de crédito ainda maior e, segundo os executivos, a maior seletividade e restrição será consequência da crise para este ano.
Nesse sentido, as despesas com provisões para operações de crédito do Banestes alcançaram R$ 330,85 milhões em 2015, uma alta de 22,6% em relação a 2014. Já o Banrisul, no ano passado, apresentou quase o dobro dessas despesas, com cerca de R$ 1,5 bilhão. O valor corresponde a uma alta de 97,8% ante o ano anterior.
"A inadimplência é a preocupação. A provisão do ano passado foi recorde, e isso explica porque o banco sempre é muito prudente e conservador. O que aconteceu é que houve uma deterioração na arrecadação de tributos e na carteira, decorrentes da crise. Quando você entra em um processo de recessão, e o mais importante é não é o fato de ser recessivo, mas de ele ser longamente recessivo, o impacto é a redução da demanda e a perda da capacidade de pagamento", avalia Ricardo Hingel, diretor financeiro e de relações internacionais do Banrisul.
"O principal impacto da crise é a queda na demanda de crédito, o que limita as oportunidades de crescimento. De certo modo, o tamanho médio do Banestes nos permitiu, antes mesmo do agravamento da crise, ter maior seletividade na concessão, e já adotarmos práticas alinhadas com o mercado para a recuperação e renegociação de créditos, em relação à inadimplência", complementa Dias, do banco capixaba.
Cartões e seguros - Ainda de acordo com os executivos, as outras duas principais frentes para garantir as principais receitas das instituições financeiras estaduais seriam os cartões de crédito e a expansão da carteira de seguros.
"Os outros dois negócios do banco é a performance da empresa de cartões, onde a expectativa é de +30% em 2016, e a atuação da empresa de seguros, também com chances de ter 30% de crescimento nominal", conta Hingel, do Banrisul.
Com as expectativas positivas, o Banestes projeta um crescimento entre 4% e 8% na carteira de crédito ampliada (-9,2% em 2015 em relação a 2014), alta entre 6% e 10% para crédito consignado (+5% em 2015) e crescimento entre 40% e 44% para crédito imobiliário (o qual, apesar de menor do que os +65,1% registrados ano passado, ainda reflete a recuperação do banco).
O Banrisul, por sua vez, aparece mais cauteloso, projetando um aumento nulo ou de até 4% em sua carteira de crédito total (+5% em 2015) e de 4% a 8% no crédito imobiliário (+16,7% no ano passado). "Com as perspectivas da economia para este ano, nós vamos continuar extremamente seletivos, trabalhando nossas taxas de juros de acordo com o mercado", reforça o diretor financeiro do banco.