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15/04/2020

Bancos monitoram crise e cogitam até mais 4 meses de prazo de carência para dívidas

A leitura feita pelos banqueiros é a de que os 60 dias adotados não serão suficientes diante da extensão da crise, ainda sem data para terminar

Os bancos brasileiros monitoram de perto os reflexos da crise deflagrada pela pandemia de coronavírus e consideram ampliar o prazo de carência, de 60 dias, concedido a diversas linhas de crédito voltadas a pessoas físicas e empresas. Na mesa de discussões, que inclui o Banco Central, diversos cenários são considerados. A primeira hipótese é aumentar a carência por mais 60 dias, mas também já estaria no radar conceder três ou até quatro meses adicionais de fôlego para aqueles com dívidas contratadas, conforme apurou o Broadcast.

 

A leitura feita pelos banqueiros é a de que os 60 dias adotados não serão suficientes diante da extensão da crise, ainda sem data para terminar. Com mais de 18 mil pessoas já contaminadas pelo novo coronavírus e 974 mortes no País, o ritmo de novos casos da Covid-19 tem crescido em média 20% por dia. Diante deste cenário, na visão dos bancos, a alternativa para ajudar empresas e pessoas físicas a atravessarem a turbulência que sacudiu as economias em todo o mundo é dar mais prazo para as dívidas contratadas.

A sugestão de conceder a carência de 60 dias partiu das próprias instituições financeiras, que levaram ao Banco Central a proposta e medidas necessárias em termos de provisionamento e de capital para que pudessem renegociar as dívidas. A autoridade monetária, por sua vez, atendeu ao setor e editou três normas para apoiá-lo.

Dentre as mudanças, o BC permitiu que os bancos mantivessem a mesma nota de clientes a despeito da renegociação das dívidas. Também flexibilizou de forma temporária a regra que determina o tamanho do colchão que os bancos devem constituir para perdas em relação ao tempo de atraso de empréstimos, conforme antecipou o Broadcast na última segunda-feira, dia 06.

 

Até agora, os bancos receberam mais de dois milhões de pedidos que somam R$ 200 bilhões em dívidas. E este número não para de crescer, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Do total, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander já renegociaram cerca de R$ 130 bilhões, concedendo carências que vão de dois a três meses, dependendo do banco.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney, explica que as mudanças já anunciadas pelo BC permitem aos bancos concederem carências de até seis meses aos seus clientes para apoiá-los durante a crise, sem que sejam necessárias novas ações por parte da autoridade regulatória. “Os bancos estão monitorando passo a passo os efeitos da crise e se o quadro de piora se mantiver, as instituições já se dispuseram a continuar renegociando as dívidas dos clientes, dando a eles mais prazo e fôlego”, afirma ele, em entrevista ao Broadcast.

 

Os bancos, acrescenta Sidney, que assumiu a presidência da Febraban no fim de março, vão se valer de toda a janela regulatória para apoiarem empresas e indivíduos durante a crise. “Se o quadro de piora se mantiver, há disposição dos bancos, de forma isolada ou conjuntamente, para continuar renegociando e prorrogando as dívidas por um prazo maior”, reforça o presidente da Febraban.

 

Ontem, a Caixa já foi nesta direção, mas para empréstimos novos. O banco público anunciou que a partir da próxima segunda-feira, dia 13, vai ofertar crédito imobiliário com carência de 180 dias para começar a pagar. Do lado da renegociação de dívidas já existentes, a instituição tem trabalhado com prazo de até 90 dias. “Se necessário, vamos ampliar o prazo de carência”, informou o presidente da instituição, Pedro Guimarães, ao Broadcast.

 

Na visão do presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, os 60 dias não serão suficientes e é “muito provável” que esse prazo seja estendido. “Estamos pensando como vamos fazer daqui a 30, 60 dias para prorrogar por mais 60 dias, que talvez seja o prazo mais adequado. Conversei com o (Bracher) Candido (presidente do Itaú) e o (Sergio) Rial (presidente do Santander). Já estamos pensando nisso, para que as pessoas possam ficar tranquilas”, disse o executivo, em entrevista ao Broadcast, na semana passada.

Procurado, o Banco Central não comentou.

FONTE: ESTADO DE S. PAULO