A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) desenvolveu uma régua de sensibilidade para que instituições financeiras identifiquem facilmente o quanto suas carteiras estão expostas a riscos associados às mudanças climáticas. A ferramenta leva em conta o perfil da instituição, setores que financia, tipos de operação, volumes, prazos e localização dos projetos.
Trata-se de um instrumento prático para que o setor financeiro entenda os impactos da mudança do clima em seus negócios. É um exemplo da implementação das recomendações do Financial Stability Board (FSB) sobre a divulgação de informações dos impactos das mudanças do clima no setor.
Este é o tema do "Café com Sustentabilidade", encontro promovido hoje na sede da Febraban em São Paulo. Há perto de 100 inscritos. Na ocasião, será divulgado um relatório que orienta a ação dos bancos em relação a riscos climáticos em suas carteiras de investimentos. Na base, está ajudar o setor a fazer a análise de risco de seus portfólios com esta lente.
Esta história começou em dezembro de 2015, durante a conferência do clima das Nações Unidas em Paris. O economista Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra e do Financial Stability Board (FSB), cargo que acumulou até 2018, lançou uma força-tarefa para iniciar estudos sobre impactos da mudança do clima no setor.
Desde então, bancos e instituições financeiras têm puxado a narrativa do baixo carbono.
Em 2017, a força-tarefa publicou recomendações para empresas e bancos divulguem informações relativas ao impacto da mudança do clima em seu negócio.
A ideia era aumentar o entendimento dos mercados sobre os riscos físicos (quando acontecem secas, inundações e outros eventos extremos), riscos de transição (como mudanças na regulação) e oportunidades.
"Não é uma agenda política, mas técnica. E que se baseia muito em ciência", diz Mário Sérgio Fernandes de Vasconcelos, diretor de sustentabilidade e marketing da Febraban. "Não é por outra razão que o FSB tomou conta desta agenda", continua. "Eles olham a resiliência do setor financeiro, de quanto o setor precisa estar preparado para não ter uma crise sistêmica em função do clima como foi a de 2008." E segue: "Estamos nesta agenda e ela é transformadora."
A entidade elaborou um questionário detalhado sobre o tema e o enviou a seus associados. Foram 28 os bancos que responderam. Destes, 64% já estavam familiarizados com as recomendações da força-tarefa do FSB. Do total, 30% informaram que os conselhos de administração dos bancos passaram a discutir o tema climático. E 11% dos bancos tinham metas climáticas, como a redução da emissão de gases-estufa em suas agências.
Um grupo de trabalho criado na Febraban para trabalhar este tema criou o que batizaram de "road map" para 2019 e 2020.
Em 2020, por exemplo, a intenção é começar o desenvolvimento de cenários climáticos. Isso significa combinar o que a ciência prevê em cenários em que a temperatura aumente 1,5° C até o fim do século, ou 2°C, e como isso irá afetar os modelos de negócios.
A Febraban tem 118 associados entre bancos públicos e privados, de capital nacional e estrangeiro.