Quem aguarda a queda das taxas cobradas no crédito imobiliário após o início dos cortes da Selic terá de esperar até o ano que vem. Esse foi o recado de três dos bancos privados de maior relevância no setor durante evento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) nesta quinta-feira. Segundo executivos do Santander, Bradesco e Itaú Unibanco, as condições para uma eventual redução dos custos das linhas só devem acontecer em 2024.
Conforme o diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Romero Albuquerque, o banco não prevê uma redução do custo das linhas de financiamento habitacional no curto prazo. “Não trabalhamos com [possibilidade de] reduções [de taxas de crédito imobiliário] para este semestre. Não teremos em 2023 e o mais provável seria para os próximos semestres.”
Segundo o executivo, “não é especificamente só o movimento da Selic”. Para Albuquerque, “há vários fatores que pesam [na decisão], incluindo a perspectiva de o próprio Congresso endereçar reformas importantes”.
Para o diretor de negócios imobiliários do Santander, Sandro Gamba, “com as informações que temos hoje, não vejo espaço para redução da taxa de crédito imobiliário neste ano”. Para 2024, “temos de aguardar”. O executivo pondera que a redução da participação da poupança no “funding” do crédito imobiliário, de 50% há alguns anos para os atuais 35%, “claramente aumenta a correlação do crédito imobiliário com a Selic, mas isso não significa que seja um efeito imediato”.
O diretor de produtos de crédito imobiliário do Itaú Unibanco, Rodrigo Penteado, afirmou que um fator necessário para as instituições poderem realizar as reduções de taxas é a recuperação de captação da poupança.
“A expectativa é favorável com o início do ciclo de redução da Selic, mas a composição dos instrumentos de captação é que estabelece o preço do crédito imobiliário. A queda de captação da poupança afeta [as taxas]. Quando temos captação mais voltada para instrumentos de mercado há um mix de custo mais elevado. Para ter redução, o componente de mix é muito importante.”
Apesar das incertezas no horizonte, 2024 pode concorrer por um lugar no pódio no ranking dos melhores anos do crédito imobiliário, afirmou o presidente da Abecip, José Ramos Rocha Neto. “Nó próximo ano, o volume de concessões de financiamento imobiliário vai estar em níveis próximos dos atuais”, disse. “Pode até estar lutando pelo bronze ou pela prata [no ranking dos melhores anos]”, pontuou.
Rocha ressaltou que 2023 tende a se consolidar como o terceiro melhor ano em termos de concessões da história do setor, com um volume de financiamentos habitacionais estimados em R$ 240 bilhões, ou seja, muito próximo dos R$ 241 bilhões do ano passado. Mas 2024, afirmou o dirigente, tem potencial de ser melhor do que o período atual, devido à melhora do cenário macroeconômico. “Indicadores de desemprego estão extremamente controlados; a taxa de juros, além do movimento recente da primeira queda, o Copom sinaliza que teremos quedas constantes, e provavelmente vamos chegar no ano que vem a uma taxa de um dígito. No câmbio, vemos sinal positivo porque, mesmo no momento recente de instabilidade, não voltou a ultrapassar o patamar de R$ 5 [por dólar]. Além disso, a inflação mostra queda. Então, não podemos crer que teremos um 2024 ruim.”
Para Rocha, “o crescimento da economia vem superando as expectativas e o crédito imobiliário é uma das alavancas desse resultado”. O setor, segundo o presidente da Abecip, “mostra sensível melhora de produtividade”. O dirigente afirmou ainda que um estudo da FGV mostra que a melhora da produtividade do setor ajudou a compensar os aumentos dos custos de construção.
O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, reforçou que a evolução do mercado de capitais tem permitido a diversificação de funding ao setor. “O estoque combinado de LIG, LCI e CRI saiu de R$ 200 bilhões para R$ 600 bilhões em alguns anos. Além disso, o número de investidores de fundos imobiliários saltou de 200 mil há dois anos para mais de 2 milhões.”