Alex Ribeiro e Lucas Marchesini
O processo de redução do endividamento de empresas e famílias deverá ter continuidade no ano que vem, prevê o Banco Central, que projeta uma nova queda do crédito bancário em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), dos 49,5% apurados em novembro para 48% em dezembro de 2017. Ainda assim, a autoridade monetária antevê os primeiros sinais de estabilização no crédito.
O volume de empréstimos na economia teria uma leve alta, de 2%, depois de registrar uma queda estimada em 3% neste ano, a primeira na série estatística. A discreta expansão do crédito, se confirmada, tenderia a ser menor do que o crescimento nominal do PIB esperado para o ano que vem, em torno de 6%. Por isso, apesar da alta de 2%, o crédito registraria uma retração na sua proporção com o PIB. "A queda de crédito em relação ao PIB está em linha com o processo de desalavancagem que temos observado tanto das famílias como de empresas", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, usando um jargão econômico que significa redução de dívidas.
A recessão dos últimos dois anos, que levou à alta do desemprego e à queda da renda real, e a menor oferta de empréstimos pelos bancos levaram as famílias a reduzirem as suas dívidas. De dezembro de 2015 a outubro de 2016, caiu de 45,9% para 42,5% a relação entre as dívidas de pessoas físicas e a sua renda anual. Em 2017, a queda da inflação deverá contribuir para preservar uma parcela maior da renda real dos indivíduos, mas os níveis de emprego tendem a responder com alguma defasagem à retomada da atividade econômica.
O Banco Central não coleta dados sobre o nível de endividamento das empresas, mas especialistas têm afirmando que elas também passam por um forte processo de desalavancagem.
De janeiro a novembro de 2017, o saldo das operações de crédito com pessoas jurídicas encolheu 9%. Houve uma queda de mais de três pontos percentuais do PIB, de 28,45% para 24,75%. A avaliação do BC é que o leve crescimento do crédito esperado para 2017, embora abaixo da inflação, é um sinal de alento. "Mais importante que o nível de crescimento em si é o fato de que estamos saindo de um período de retração", argumenta Maciel. "Esse crescimento moderado, de 3%, está em linha com a expansão real de 0,8% da economia esperada para o ano que vem."
Em novembro, disse Maciel, foi registrado um novo crescimento mensal do crédito livre, depois de seis meses de queda, com avanço de 0,3%. Em parte, refletiu compras de cartão de crédito do "Black Friday", uma sexta-feira em que o comércio brasileiro faz promoções
No crédito direcionado, também houve alta de 0,3%, em parte puxada pela retomada das contratações de operações de crédito imobiliário, que ficaram prejudicadas no começo de outubro pela greve dos bancários.
De 2004 a 2012, o crédito foi um importante motor do crescimento econômico. O BC vem argumentando que, desta vez, o crédito não irá liderar a retomada da atividade, mas poderá ajudar a sustentar a recuperação assim que ela estiver em marcha. Para o BC, o sistema bancário segue sólido o suficiente para responder a uma maior demanda de crédito, à medida que a economia se recuperar. "Apesar da retração da atividade econômica, a taxa de inadimplência cresceu muito pouco, passando de 5,3% em dezembro de 2015 par 5,8% em novembro deste ano", disse Maciel. Um dos fatores que podem ajudar na estabilização do mercado de crédito em 2017 é a redução na taxa básica de juros.
Maciel disse que a taxa média cobrada no crédito livre caiu de 54% ao ano para 53,9% em novembro, num movimento de queda muito pequeno, mas que de qualquer forma é a primeira desde dezembro de 2015. Dados divulgados na sexta-feira mostram uma expansão de 0,3% no salto total do crédito, para R$ 3,104 trilhões, e uma alta de 6% nas contratações de novas operações, comparando com outubro. O BC projeta para 2017 uma alta de 2% no crédito livre e no crédito direcionado. As carteiras dos bancos públicos cresceriam 3%; os privados nacionais, 1%; e os estrangeiros, 2%.