O Banco Central revisou sua projeção para o crescimento do mercado de crédito em 2016 de uma expansão de 5% para 1%. Na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto), o estoque deve recuar de 54,5% no final de 2015 para 52% neste ano. Dados da instituição desde o Plano Real mostram que as menores expansões registradas até então eram de 3%, em 1997 e 2001. O BC prevê que o crédito com recursos livres, ou seja, sem subsídios e sem aplicação obrigatória, recue 1% neste ano. Antes, a expectativa era aumento de 2%.
As operações com subsídios e aplicação obrigatória, como os empréstimos do BNDES para empresas e a maior parte do crédito imobiliário, deve crescer 3%, ante previsão anterior de 7%, feita em março.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que o principal motivador da revisão foi o desempenho do crédito nos cinco primeiros meses do ano. O estoque encolheu por quatro meses seguidos até abril, na comparação mensal, e ficou praticamente estável em maio. "Não tínhamos quatro meses de queda mensais desde o início das nossas séries. Isso foi interrompido em maio, embora observemos ainda desaceleração do crédito", afirmou Maciel. "A gente vê esses indicadores de confiança mostrando recuperação, mas esse movimento é incipiente e precisa ser consolidado para que a gente veja alguma reação no mercado de crédito." Maciel disse ainda que o BC recebeu relatos de melhora no mercado de crédito por parte de alguns bancos, mas que os resultados são muito preliminares.
O BC cortou pela metade a estimativa de aumento do crédito nos bancos públicos, de 8% para 4%. Ou seja, o resultado ficará abaixo da inflação prevista, de cerca de 7%. Espera-se ainda retração de 4% no estoque dos bancos privados nacionais e aumento de apenas 1% nos estrangeiros que atuam no Brasil. "Persiste um dinamismo baixo da atividade econômica, e isso contribui para esse desempenho", afirmou Maciel.
No crédito às empresas, por exemplo, segue o forte recuo do saldo do capital de giro, um termômetro da atividade econômica. Os desembolsos para novas operações de investimentos com recursos do BNDES caíram pela metade. Nas operações às pessoas físicas, destacam-se, por exemplo, a desaceleração do crédito imobiliário e a retração no financiamento de veículos.
Sobre o sinal de melhora em maio, Maciel destacou que praticamente todas as operações ao consumo cresceram, com destaque para o avanço de cerca de 3% nas compras com cartão de crédito à vista e parcelado, influenciado pelo Dia das Mães. "O aumento de 5,5% no uso do cartão em relação a maio do ano passado é uma indicação positiva em relação ao comércio. Em termos reais significa um recuo, mas menor do que vem sendo mostrado pela PMC [pesquisa do comércio do IBGE]", afirmou.
Maciel disse ainda que a inadimplência tem subido de forma consistente, mas lenta, e que o indicador tem contribuído para o aumento dos juros bancários.