O Banco Central (BC) vem trabalhando para aumentar a competição do sistema bancário, afirmou ontem o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Como exemplo, ele citou o decreto assinado no fim de setembro pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, facilitando o investimento de capital estrangeiro em instituições financeiras nacionais.
“É muito importante mostrar que queremos fazer um sistema competitivo”, disse em audiência pública realizada na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados. “Sistema competitivo significa tratar banco público igual a banco privado e significa tratar capital estrangeiro igual a capital local.”
Campos Neto destacou, inclusive, que essa é uma das exigências feitas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a seus membros. O Brasil vem pleiteando desde o governo Temer a sua adesão ao órgão.
Ele também chamou a atenção positivamente para a chegada ao país de agentes financeiros de menor porte. “O ritmo de plataformas [de investimentos] e de pequenos bancos que têm entrado no Brasil, bancos asiáticos especialmente, é bastante grande. Então acho que estamos em um processo que vai iniciar uma competição grande”, disse.
Campos também afirmou que a expansão do crédito vem sendo um dos principais motores da recuperação da economia no Brasil. “O crédito terá uma papel fundamental na recuperação do país. Isso tem acontecido recentemente. Parte do motivo pelo qual o mercado e os agentes financeiros estão mais otimistas é o crescimento do crédito”, disse.
Em setembro, o crédito livre acumulado em 12 meses apresentava alta de 13,1%. Na abertura por setores, Campos destacou principalmente o desempenho do financiamento imobiliário. O BC calculava, por exemplo, que o crédito imobiliário indexado a índices de preço, implantado em agosto, movimentaria R$ 1 bilhão ao longo do seu primeiro ano. Segundo ele, foram movimentados R$ 2 bilhões em apenas um mês. “Se tem uma coisa que está impulsionando o crescimento e o emprego no Brasil recentemente é o financiamento imobiliário", disse.
Mesmo assim, tanto o crédito para imóveis quanto o financiamento de infraestrutura ainda estão abaixo do seu potencial, de acordo com o presidente do BC. Ambas as modalidades foram classificadas por ele como as mais importantes do mercado de crédito. Os empréstimos para imóveis respondem por aproximadamente 9% do balanço dos bancos brasileiros, contra 40% nos países desenvolvidos. O crédito para infraestrutura também é pequeno, mesmo na comparação com economias emergentes, de acordo com ele.
“Se a gente realmente quiser fazer o país crescer, tem que endereçar as duas grandes modalidades de crédito, que é realmente que faz a diferença”, disse.
O atual ciclo de crescimento da economia, na avaliação de Campos, será mais lento do que os anteriores. No entanto, terá “maior qualidade”, por se basear mais no investimento privado do que no público, com melhor alocação de recursos.
“O crescimento desta vez é diferente, será mais eficiente e duradouro”, afirmou.