O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central (BC) afirmou nesta terça-feira que “o crescimento do crédito bancário é condizente com os atuais fundamentos econômicos”. Modalidades estimuladas pelas taxas de juros historicamente baixas e associadas à retomada econômica estão entre as com maior crescimento”, disse na ata referente à retomada econômica estão entre as com maior crescimento”, disse na ata referente à reunião da semana passada.
Já o crédito às pequenas e médias empresas retomou “o ritmo pré-pandemia, mesmo com o fim dos programas emergenciais, e as empresas de maior porte voltam gradativamente a buscar funding no mercado de capitais”.
Para as pessoas físicas, por sua vez, “continua o crescimento de modalidades” com prazo maior e algum tipo de garantia.
A autoridade monetária também chamou a atenção, por exemplo, para o fato de o apetite ao risco das instituições financeiras ter “aumentado em algumas modalidades de crédito voltados para família”. “Os volumes mensais das contratações no crédito imobiliário têm sido os maiores dos últimos anos, estimulados principalmente pelo nível historicamente baixo das taxas de juros cobradas”, disse.
No caso dos financiamentos de veículos, principalmente usados, “tem-se observado alongamento dos prazos e elevação da parcela do valor do veículo financiada”. Diante desse ambiente “ainda incerto”, o colegiado recomendou que “os intermediários financeiros continuem preservando a qualidade das concessões”.
Um segundo ponto de atenção diz respeito à elevação do custo de manutenção de liquidez e ao encurtamento dos prazos de captação. Em função de “fatores estruturais e conjunturais”, a taxa média de captação “tem se elevado e segue acima da taxa básica de juros, ao contrário do que ocorria até 2019”.
“Ao mesmo tempo, os prazos das captações foram encurtados em decorrência da crise, o que exige volumes maiores de liquidez disponíveis” nas instituições financeiras, disse. Ainda assim, o comitê considera que as instituições “possuem capacidade de adaptação para lidar com as mudanças que ora se apresentam mediante redefinições de estratégias de captação e de gestão de liquidez”.
Por fim, “o aumento recente da inflação nas economias avançadas traz riscos de deterioração abrupta das condições monetárias globais, que poderia levar a reprecificação desordenada dos ativos, aumento da aversão ao risco e reversão dos fluxos de capital para economias emergentes”. Mesmo assim, o Comef destacou que a exposição do Sistema Financeiro Nacional “ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência do funding externo é pequena”.
Para o comitê, “o restabelecimento da neutralidade da política macroprudencial é apropriado neste momento”. Até março, a autoridade monetária considerava que a política macroprudencial, que cuida da solidez e do bom funcionamento do sistema financeiro, precisava cumprir um papel “contracíclico”.
“Especificamente, prossegue o retorno da parcela Adicional de Conservação de Capital Principal (ACPConservação) iniciado em abril com conclusão prevista para março do próximo ano”, disse.
O ACPConservação é um colchão de liquidez cuja alíquota foi reduzida temporariamente no início da pandemia de 2,5% para 1,25% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), como maneira de liberar espaço para que as instituições financeiras emprestassem recursos. A medida estabelecia que a partir de abril deste ano a alíquota seria elevada gradualmente.
Segundo o Comef, a volta a uma política macroprudencial neutra “está alinhada com a evolução positiva do crédito e com a expectativa de continuidade desse processo”. O comitê também afirmou que, “apesar do otimismo cauteloso do cenário atual, o ambiente econômico continua requerendo atenção” por parte da autoridade monetária.
“A incerteza sobre os efeitos da elevação do endividamento na inadimplência e sobre a retomada econômica tem se reduzido, mas permanece maior do que a usual”, disse. “O Comef segue recomendando que as instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de capital. Ao longo de 2021, os bancos devem destinar os lucros de forma conseradora e alinhada às incertezas presentes e ao momento econômico.”
Provisões do SFN estão adequadas
Outro ponto de destaque dado pelo Comitê é que as provisões do Sistema Financeiro Nacional (SFN) “para potenciais perdas de crédito estão adequadas”. Isso porque as instituições financeiras “mantiveram provisões em patamar elevado e, assim, a cobertura dos ativos problemáticos permanece próxima de seu recorde histórico”.
“Além disso, 92% das operações repactuadas durante a pandemia já saíram do período de carência e têm apresentado qualidade do crédito superior ao inicialmente esperado”, disse. “Os ativos problemáticos retornaram ao nível pré-pandemia, embora algumas carteiras, como o crédito imobiliário com recurso do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), tenham apresentado elevação significativa.”
O Comef afirmou também que os níveis de capitalização e liquidez do SFN “mantiveram-se superiores aos requerimentos prudenciais” nos últimos meses. “Os índices de solvência do SFN permaneceram estáveis em relação ao fim de 2020”, disse. Já “a liquidez do setor bancário continuou adequada, apesar da redução sazonal de início de ano”.
Além disso, os testes de estresse mostram que o SFN está “resiliente”, segundo o Comef. Os testes realizados para medir efeitos da pandemia, por exemplo, “continuam indicando adequada capacidade de absorção de perdas”.
“Destaca-se que a comparação dos resultados desses testes no tempo apresenta sucessivas reduções no seu impacto”, disse. “A avaliação de cenários de estresse, a partir da deterioração das condições econômicas, também indica que o sistema não apresentaria problema relevante caso os cenários considerados se concretizassem.”
O Comitê afirmou também que “o sistema financeiro das principais economias segue resiliente”, com “níveis de capital e liquidez robustos” e “saldos de provisionamento superiores aos que vigoravam antes da pandemia”. “Algumas jurisdições já sinalizaram reavaliação dos buffers (colchões) de capital contracíclico em função de vulnerabilidades locais, especialmente no mercado imobiliário”, disse.
Segundo o Comef, simulações realizadas tanto pelo próprio BC quanto pelas autoridades monetárias de outros países “indicam que o sistema financeiro global permanece preparado para suportar choques adicionais”.