O Relatório de Estabilidade Financeira (FSR, na sigla em inglês) do Banco Central Europeu (BCE) avalia que os riscos à zona do euro relacionados à pandemia de covid-19 diminuíram, mas ressalta que as vulnerabilidades se intensificaram, em especial no mercado imobiliário, que vem registrando forte alta nos preços, sem haver como contrapartida um aperto nos critérios de concessão de crédito. Segundo o BCE, isto torna o setor mais suscetível a uma correção.
Segundo o documento, os preços de imóveis da zona do euro cresceram no segundo trimestre de 2021 em um ritmo acelerado que não era registrado desde 2005. A forte alta nos preços de cerca de 7% na zona do euro preocupa. Parte desse crescimento pode refletir um aumento na demanda por imóveis durante a pandemia. Mas sinais cada vez maiores de uma supervalorização nos preços deixa o mercado mais suscetível a uma correção, especialmente em países com níveis de preços mais elevados.
Entre os países com a relação mais elevada entre endividamento das famílias e Produto Interno Bruto (PIB) estão Holanda, França, Áustria, Alemanha, Luxemburgo, Eslováquia e Bélgica.
Em alguns países, segundo o documento, o fortalecimento dos preços de residências está atrelado à concessão de crédito hipotecário mais dinâmico, e há evidências de uma deterioração progressiva dos critérios de avaliação para concessão de hipotecas. Níveis altos e crescentes de endividamento das famílias também contribuem para aumentar as vulnerabilidades de alguns países no médio prazo. O BCE recomenda que medidas políticas para analisar vulnerabilidades e riscos desses setores sejam tomadas.
Segundo o BCE, os imóveis comerciais foram mais beneficiados pela melhora do cenário econômicos, mas alguns nichos continuam vulneráveis, como os ativos de menor qualidade. “Trabalho remoto, preocupações com a saúde e uma maior busca por áreas verdes canalizou a demanda para imóveis de alto padrão. Imóveis como lojas e escritórios, mais afetados pela pandemia, têm maior risco de sofrer correção.
“A recente recuperação econômica na zona do euro trouxe também uma recuperação da atividade das empresas, reduzindo o temor de ocorrência de problemas econômicos e de aumento do risco de crédito”, ressalta o vice-presidente do BCE, Luís de Guindos, ao comentar o relatório publicado hoje. Segundo ele, os riscos de altas taxas de inadimplência corporativa e perdas bancárias são agora “significativamente menores” do que há seis meses.
Porém, a autoridade monetária lembra que a pandemia não acabou e ressalta que o progresso da vacinação permaneceu lento em várias partes do mundo. “Ao mesmo tempo, as pressões da cadeia global de suprimentos e o aumento dos preços de energia representam novos desafios para a força da recuperação e às perspectivas para a inflação”, pondera de Guindos. Para ele, as perdas relacionadas à pandemia tendem a continuar se materializando por algum tempo.