Lançado em novembro de 2020, o uso do Pix como método de pagamento saiu de 16,9% de aceitação no varejo on-line brasileiro em janeiro deste ano para 59,3% em novembro, segundo pesquisa da GMattos consultoria.
Já um estudo da Fundação Dom Cabral com foco no pequeno varejo mostra que o Pix hoje é a quarta modalidade mais aceita (83,9%), perdendo apenas do dinheiro (96%) e dos cartões de crédito (91,5%) e débito (89,7%).
Isso significa que a Black Friday deste ano será a primeira com a ferramenta funcionando com força total. De acordo com Carlos Netto, CEO da Matera e um dos idealizadores do Pix, essa é uma boa notícia para os consumidores de segmentos de baixa renda.
O Banco Central informa que mais de 103 milhões de pessoas já utilizam o Pix. Netto acredita que o sistema de pagamento instantâneo é mais democrático do que o cartão de crédito. “Há uma população gigantesca que não tem cartão de crédito e o Pix está fazendo a inclusão financeira e digital dessas pessoas”, avalia o especialista.
Netto prevê que, aos poucos, o Pix irá substituir o boleto bancário como método preferencial de quem não possui cartão.
Conforme explica Gastão Mattos, cofundador e CEO da GMattos, o boleto sempre foi um método de pagamento muito importante para o brasileiro, apesar de ter uma taxa de conversão de apenas 50%. Ou seja, a cada duas transações em que o consumidor escolhe pagar com boleto, apenas uma é concretizada.
Mattos comenta que isso é um grande problema para os vendedores, pois, uma vez que uma compra com boleto é realizada, o lojista precisa separar o item vendido no estoque, e o aviso da compensação demora muitas vezes 48 horas para chegar. Se o boleto não é pago, esse item volta ao estoque e o varejista perdeu a oportunidade de vendê-lo a outro cliente naquele período.
“Em uma época de muitas vendas em um curto espaço de tempo, como a Black Friday, isso é especialmente negativo. Tanto que existem lojas que inibem o pagamento por boleto nesses períodos de grandes ofertas”, destaca.
Não obstante essas desvantagens, o consultor aponta que as lojas não podem simplesmente parar de aceitar boletos, porque quando fazem isso perdem um enorme nicho de mercado composto pelas pessoas que ou não possuem cartão de crédito ou não têm limite suficiente para comprar bens duráveis.
A solução, argumenta ele, seria uma mais ampla utilização do Pix. “Embora seja um meio recente, a conversão atingida pelo Pix está entre 60% e 90%.”
Carlos Netto também entende que é muito mais vantajoso aos lojistas o pagamento com Pix, até por ser imediato e não ter o período de 48 horas de compensação do boleto. Mas avalia que, por enquanto, o cartão de crédito deve continuar a ser o preferido dos clientes que o possuem.
Os motivos para isso são vários, como a possibilidade de parcelamento e a menor quantidade de passos até a compra. Netto lembra que, em algumas lojas, o consumidor já deixa cadastrado o cartão e consegue comprar em um clique, enquanto a maioria das empresas que oferecem a opção do Pix ainda obrigam o cliente a escanear um QR Code com o aplicativo do banco para fechar a transação.
Esse quadro mudará à medida em que mais estabelecimentos se tornam iniciadores de pagamento, uma figura que surgiu com a terceira fase do “open banking”. O comércio assim credenciado poderá iniciar uma transação por Pix bastando o aval do cliente.
“O open banking deve mudar muito a relação do varejista com o Pix. Se você se torna iniciador de pagamento já consegue receber o pagamento sem a fricção do QR Code. A usabilidade é comparável à do cartão”, defende Netto.