Otimista com as perspectivas para a economia, o Bradesco espera um crescimento de 9% a 13% em sua carteira de crédito neste ano. Se confirmado, será o ritmo mais forte desde 2013, o que ajudou a elevar as ações do banco ontem à máxima histórica.
Sinais dessa melhora já começaram a aparecer no ano passado, quando o volume de empréstimos e financiamentos aumentou 7,8%. O banco fechou dezembro com R$ 531,615 bilhões em seu portfólio total de crédito. "Estamos trocando um ciclo de recessão por um ciclo de recuperação e agora vamos iniciar um ciclo benigno de crescimento", afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr.
Mais forte, o crédito voltou a ser um dos motores do resultado do banco no quarto trimestre. O Bradesco teve lucro líquido de R$ 5,83 bilhões no período em termos ajustados, superando em 19,9% a cifra alcançada entre outubro e dezembro de 2017. O número veio acima das projeções de analistas. Em todo o ano passado, o lucro cresceu 13,4%, para R$ 21,564 bilhões.
O maior volume de operações e uma mudança na composição da carteira - com mais foco no varejo - ajudaram a atenuar o impacto da queda dos spreads médios no quarto trimestre. Spread é a diferença entre a taxa que o banco paga e a que cobra dos clientes.
De acordo com Lazari, será preciso ganhar ainda mais escala no crédito neste ano para compensar a tendência de compressão da margem. "Temos absoluta consciência de que a queda dos spreads é algo que está dado, vai continuar acontecendo."
Os segmentos de pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, que já vinham crescendo, devem continuar liderando a expansão da carteira do banco neste ano. Porém, a demanda de grandes empresas pode finalmente voltar a crescer caso o governo avance na agenda de reformas e privatizações ao longo do primeiro semestre.
Mesmo com uma perspectiva mais forte para os ativos, o Bradesco sinalizou uma nova rodada de queda no risco de inadimplência. O banco espera que as despesas com provisões contra calotes fiquem entre R$ 11,5 bilhões e R$ 14,5 bilhões em 2019. Isso significa que, no pior cenário, ficam no mesmo patamar do ano passado em termos absolutos, mas com uma carteira de crédito muito maior.
"A originação das novas safras de crédito tem mostrado bom desempenho e ainda há espaço para uma melhora marginal na inadimplência", afirmou o diretor de relações com o mercado, Carlos Firetti, em teleconferência com analistas. "A normalização do custo de crédito ainda não está concluída."
O banco fechou 2018 com índice de inadimplência de 3,51%, queda de 0,12 ponto percentual no trimestre e de 1,19 ponto em 12 meses. A combinação entre a perspectiva de crescimento das operações e a queda no risco levou as ações preferenciais do Bradesco à maior cotação da história. Os papéis fecharam o dia com alta de 5,65%, a R$ 45,26. "O Bradesco parece estar avançando em um novo ciclo de crédito", escreveram analistas do UBS em relatório a clientes.
Se conseguir deter a pressão sobre a margem financeira, reduzir o custo de crédito e controlar o crescimento das despesas, o banco pode "facilmente" ultrapassar um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20%, diz análise do Goldman Sachs.
O Bradesco gerou um retorno de 19,7% no quarto trimestre, ante 18% no mesmo período do ano anterior. A rentabilidade ficou em 19% no ano passado. No início de 2018, o banco perdeu para o Santander a marca de segunda maior rentabilidade entre os grandes bancos - o Itaú Unibanco lidera. O Santander gerou retorno de 21,1% no quarto trimestre e de 19,9% no ano todo. Desde então, o Bradesco vem tentando reagir com uma série de medidas - entre elas, uma reorganização administrativa anunciada neste mês para tornar sua estrutura mais ágil.
Lazari disse que há espaço para melhora na rentabilidade, embora não tenha traçado uma meta. "Retorno não é uma corrida de Usain Bolt, de 100 metros. É uma corrida de longo prazo", afirmou.