Após dois anos em um processo de reestruturação, a Brookfield Incorporações dá início à sua nova fase, que tem como marco a mudança da marca da companhia para Tegra Incorporadora. A incorporadora, liderada desde julho de 2015 por Ubirajara Spessotto de Camargo Freitas, pretende voltar a ter patamar de lançamentos próprios de R$ 2,5 bilhões a R$ 3 bilhões, a partir de 2019, e a atuar como "boutique em escala" de projetos imobiliários. "Cada projeto é um filho, tem alma e precisa ser tratado com amor", diz Freitas.
A intenção é estar entre as três ou cinco maiores do mercado. "Mais importante do que ser a maior é ser a melhor e ter o menor nível de endividamento", afirma. A incorporadora projeta margem bruta de 38% a 42% e margem líquida de 16% a 18%.
Na nova fase, a Tegra vai desenvolver projetos imobiliários para público com renda mensal superior a R$ 8 mil, na Grande São Paulo, Grande Campinas e na cidade do Rio de Janeiro, com preço por metro quadrado superior a R$ 5 mil. Futuramente, poderá expandir novos empreendimentos para o Paraná e Rio Grande do Sul.
Os próximos lançamentos, que serão realizados a partir de agosto, já chegarão ao mercado com a nova marca. O nome Tegra foi escolhido a partir dos conceitos de "íntegra" e "integradora", que abrangem, segundo o presidente, pilares como qualidade e foco no longo prazo que a companhia adota desde a escolha do terreno até a gestão dos ativos, passando por incorporação, construção e vendas.
A Brookfield Incorporações foi formada a partir da fusão de duas incorporadoras de capital aberto - Brascan Residential Properties e Company - em setembro de 2008. A empresa resultante da fusão manteve o nome Brascan até junho de 2009, quando passou a se chamar Brookfield Incorporações, como parte da estratégia da controladora Brookfield Asset Management de alinhar suas marcas.
Agora, segundo Freitas, a mudança de nome resulta de decisão da controladora canadense de restringir o uso da marca Brookfield aos seus principais veículos de atuação global. O nome Brookfield poderá ser utilizado em algum projeto imobiliário específico, que seja considerado ícone, como ocorre no exterior. De acordo com o executivo, não há relação entre a mudança do nome e as notícias que circularam, em 2013, de envolvimento da companhia no esquema de irregularidades no pagamento de Imposto sobre Serviços (ISS) à Prefeitura de São Paulo para obtenção de habite-se.
A incorporadora chegou a ser uma das maiores do setor, mas teve seus resultados fortemente impactados, a partir de 2012, por estouros de orçamento e, posteriormente, pelos distratos. De 2012 a 2015, acumulou prejuízos líquidos. O endividamento aumentou muito - a alavancagem medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido atingiu 126% em 2013 - e sua redução tornou-se prioridade. A incorporadora, que tinha lançado quase R$ 3 bilhões em 2010, R$ 3,9 bilhões em 2011 e R$ 3 bilhões em 2012, apresentou R$ 1,16 bilhão em 2013, R$ 435 milhões em 2014 e não teve novos projetos em 2015.
No ano passado, porém, seu Valor Geral de Vendas (VGV) somou R$ 1,2 bilhão, ficando abaixo apenas ao da MRV Engenharia, Cyrela e Tenda. Para 2017, estão previstos lançamentos de R$ 1,6 bilhão - por enquanto, foram lançados R$ 250 milhões. Freitas ressalta que, como não se trata de meta formal, conforme o mercado estiver, o VGV pode não alcançar o projetado, mas vai superar o do ano passado. Apesar da piora da crise política a partir de meados de maio, com denúncias envolvendo o nome do presidente da República, Michel Temer, o executivo diz que o mês foi o melhor do ano em vendas, no total de R$ 210 milhões.
O presidente da Tegra estima que os lançamentos chegarão a R$ 2 bilhões, no próximo ano, e a R$ 2,5 bilhões em 2019. Freitas acredita que Temer ficará no cargo até o fim do mandato e afirma que o planejamento da companhia se baseia no encaminhamento das reformas trabalhista e previdenciária. O executivo avalia que 2016 foi o pior ano já vivido pelas incorporadoras e que a retomada do setor só ocorrerá em 2019 ou 2020, quando o Brasil já for liderado por um novo presidente.
Segundo Freitas, a Tegra tem plano de negócios a ser executado em dez anos, que permeia a aquisição de terrenos - de janeiro a maio, foram compradas áreas para desenvolvimento de projetos com VGV potencial de R$ 1 bilhão -, investimentos em segurança da construção e sustentabilidade. No radar de curto prazo, a volta ao mercado acionário não faz parte das intenções da Tegra, mas nada impede, de acordo com o executivo, que uma nova oferta ocorra, futuramente, quando o mercado for retomado.
Nos últimos três anos, a companhia recebeu aportes da controladora canadense de R$ 4,4 bilhões, incluindo recursos para aumentos de capital, compra de dívida corporativa e oferta pública de aquisição (OPA) das ações que eram negociadas em bolsa. A OPA foi realizada no fim de 2014, e a saída da bolsa ocorreu no ano seguinte. Atualmente, a alavancagem da Tegra está em torno de 30%.
Em 2018, a incorporadora concluirá as entregas dos empreendimentos da gestão anterior e concluirá o primeiro projeto da nova safra. Os projetos antigos estão atrasados em relação aos prazos inicialmente propostos, mas seguem em linha com os novos cronogramas apresentados aos clientes. A empresa teve distratos de R$ 1,4 bilhão em 2015, R$ 1 bilhão em 2016 e estima R$ 650 milhões para este ano e R$ 400 milhões para 2018. Os preços dos imóveis foram reduzidos, mas a Tegra não tem concedido descontos para acelerar vendas, segundo Freitas.
O segmento de loteamentos também está entre as prioridades. Em 2016, foi criada uma loteadora para destinação das áreas que a incorporadora possui em Tamboré, bairro entre as cidades paulistas de Barueri e Santana de Parnaíba. Ainda não está definido se a loteadora terá o nome Tamboré ou Tegra Desenvolvimento Urbano.