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04/04/2025

Brookfield vê oportunidades em imóveis no País e avalia entrar em hotéis (Estadão)

Empresa canadense tem o equivalente a R$ 27 bilhões sob gestão por aqui.

Por Circe Bonatelli

 

Enquanto boa parte dos investidores estrangeiros optou por ficar longe do mercado imobiliário no Brasil nos últimos anos, a gestora canadense Brookfield segue ativa e, inclusive, está de olho em novas oportunidades de negócios por aqui. A gestora conta com recursos captados por fundos globais que são aplicados à medida em que surgem negócios atrativos em cada país. Com o “dinheiro na mão”, a expectativa é encontrar “pechinchas” no mercado local ao longo desta temporada de juros altos e liquidez em baixa, que afasta outros concorrentes na disputa pelos ativos.

“Vemos que agora é a hora de encontrar grandes oportunidades de comprar ativos que, talvez, em um ambiente econômico melhor, não poderíamos comprar no preço desejado”, afirma o líder de negócios imobiliários da Brookfield no continente americano, Ben Brown, em entrevista exclusiva ao Broadcast durante passagem por São Paulo.

O Brasil, ao lado de Canadá e Estados Unidos, são os únicos três países onde a multinacional atua no continente. O México é avaliado como um possível próximo destino. Ao todo, a Brookfield tem US$ 170 bilhões sob gestão no setor imobiliário nas Américas. O Brasil responde por R$ 27 bilhões. Ou seja, é um capital grande para os padrões locais, mas representa uma fatia pequena do bolo.

Avaliação vai de data centers a escritórios

A tese da Brookfield de achar “pechinchas” vale para todos os setores imobiliários onde já está presente no Brasil - prédios de escritórios, galpões logísticos, residenciais e data centers - bem como para segmentos onde ainda não atua, mas tem experiência lá fora, como hotelaria, por exemplo. “Isso vai depender das oportunidades que encontrarmos e onde vermos os melhores retornos relativos”, diz. A gestora de recursos tem 170 hotéis ao redor do mundo, como os Ritz-Carlton na Califórnia e Flórida, e o Atlantis Paradise Island, nas Bahamas. Mas no Brasil, nada.

Em várias partes do mundo, o mercado de hotelaria decolou após a pandemia, impulsionado pelo aumento do turismo interno e pelo fato de as pessoas poderem trabalhar remotamente. Assim, a ocupação dos quartos e o valor das diárias são crescentes. Apesar do momento positivo, Brown pondera que a entrada da gestora no setor estará condicionada à chance de fazer compras com valores descontados. “Passamos um bom tempo olhando para o setor de hospitalidade. Nosso foco é muito baseado em encontrar o ativo certo e não apenas investir na tese e no setor”, diz. Outro fator importante é a escala nas operações, acrescenta.

A Brookfield está otimista também com os data centers, um setor que é intensivo em capital e restrito a poucos bolsos. A canadense é dona da Ascenty, maior provedora na América Latina, com cerca de 30 empreendimentos no Brasil, além de Chile e México. Com o aumento dos serviços de computação em nuvem, streamings de vídeo e difusão da internet 5G, a demanda por processamento de dados continuará crescendo. Por sua vez, a Brookfield atua com data centers em diversos países, o que lhe coloca em contato com inquilinos de peso, entre elas as big techs, que fecham grandes contratos. “Isso nos dá uma vantagem competitiva neste mercado para, potencialmente, investir mais”, conta Brown.

Brasil é estratégico

Questionado se os deslizes do Brasil na economia e na política não são motivos para afugentar investidores, Brown concorda parcialmente, ponderando que essa é uma realidade generalizada. “Muitas fontes de capital ao redor do mundo veem o Brasil como muito estratégico”, diz, citando o tamanho do mercado consumidor e o potencial de crescimento. “Estamos vivendo em um mundo onde há incerteza política em todos os lugares. Então, não acho que o cenário atual seja um grande obstáculo para os investidores estrangeiros superarem”, emenda.

Brown admite que a agenda do presidente dos EUA, Donald Trump, tem causado volatilidade e preocupações para o mercado imobiliário de lá no curto prazo. “Antes das eleições, dificilmente alguém diria que o governo Trump teria alguma semelhança com estabilidade, mas eu acho que muitos subestimaram quão voláteis seriam os primeiros dias”, observa.

Há temor de desaceleração ou até mesmo recessão da economia, o que derrubou as bolsas de valores e reduziu o fluxo de capital este ano. Além disso, as restrições a imigrantes devem reduzir significativamente a oferta de mão de obra para construção. “Acho que é um grande impacto. Você verá muitos projetos não avançarem porque não são mais economicamente viáveis”, alerta. Em contrapartida, as propriedades comerciais já existentes devem se valorizar devido à menor concorrência vinda de novos projetos, em sua avaliação.

Por outro lado, Brown acredita que essas dificuldades são momentâneas e pontuais, sem potencial para tirar o grosso do capital dos EUA. “Algum capital poderia fluir para outros lugares, mas o pano de fundo da economia dos EUA ainda é muito forte. Você ainda tem um bom crescimento e a inflação está em um lugar confortável”, frisa. “Em termos globais, os EUA ainda são uma das economias mais estáveis do mundo”.

FONTE: ESTADãO