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04/12/2015

BTG Pactual coloca à venda banco na Suíça 3 meses depois da compra

Na época, a instituição valia menos do que agora porque respondia a processos nos EUA por ajudar clientes ricos a sonegarem impostos.

David Friedlander, Julio Wiziack, Toni Sciarretta

Apenas três meses depois de incorporar o banco suíço BSI, o novo comando do BTG Pactual decidiu colocar a instituição à venda. A intenção é levantar recursos para reforçar o caixa e enfrentar a crise de confiança provocada pela prisão de André Esteves, afastado do controle na quarta-feira (2).

É uma surpresa, porque até agora o BTG só pensava em se desfazer de empresas fora da área financeira. Ainda não há negociações em curso, apenas a decisão de ir atrás de potenciais interessados. Procurado, o BTG não quis comentar.

A Folha apurou que, para sócios do BTG, o banco suíço vale pelo menos US$ 2 bilhões. Em julho do ano passado, quando o BSI foi comprado, os brasileiros pagaram US$ 1,28 bilhão.

Na época, a instituição valia menos do que agora porque respondia a processos nos EUA por ajudar clientes ricos a sonegarem impostos.

O BTG comprou o BSI "limpinho", livre das ações judiciais, que ficaram com a antiga dona do banco, a seguradora italiana Generali.

A compra fazia parte do plano de internacionalização do BTG e incrementou seus resultados. O BSI contribuiu com R$ 17 bilhões dos R$ 40 bilhões em caixa no terceiro trimestre deste ano.

Reputação

O BTG está vendendo vários ativos porque precisa fazer caixa rápido. Embora seus executivos digam que a situação está sob controle, o quadro pode piorar caso apareçam indícios de que André Esteves tenha usado o banco em alguma operação investigada pela Lava Jato.

Como o maior patrimônio de um banco é a reputação e a confiança dos clientes nos gestores, mesmo suspeitas sob investigação podem disparar uma nova onda de saques como a que o BTG Pactual sofreu nos últimos dias, depois da prisão de Esteves. 

O afastamento do banqueiro, que foi tirado do controle pelos outros sete principais sócios, ainda não foi suficiente para estancar a desconfiança de parte do mercado.

Os bônus de dez anos, principal título do banco no exterior, estavam sendo negociados a 37% de seu valor de face nesta quinta. Na quarta, circularam a 40%. Na terça (24), antes da prisão de Esteves, eram negociados a 89,5%.

Executivos dos maiores bancos do país disseram à Folha que, se nenhuma nova surpresa surgir no caminho, o banco pode sair do sufoco, mas vai encolher.

Além de vender patrimônio para fazer frente aos saques, corre o risco de perder clientes que estavam na instituição por causa de Esteves, considerado uma estrela das finanças brasileiras.

Depois de vender sua participação na Rede D'Or, maior grupo de hospitais privados, por R$ 2,38 bilhões ao fundo soberano de Cingapura (GIC), o BTG tenta agora negociar pedaços de outras companhias, como a rede de estacionamentos Estapar, avaliada em R$ 1,3 bilhão.

Também estão na lista a Recovery, uma das principais empresas de recuperação de créditos podres, e a Eneva, que opera no ramo de energia com usinas termelétricas.

Essas empresas estão no topo da lista de venda porque têm participação direta do banco. Há muitas outras no cardápio, mas, nesses casos, o banco investe como cotista dentro de fundos criados por ele mesmo e o processo é um pouco mais demorado. 

 

FONTE: FOLHA DE S. PAULO