O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse ontem que colocará à disposição de seus clientes R$ 50 bilhões a mais em linhas de capital de giro. Segundo ele, o movimento é preventivo. “Estamos preparados para ampliar em dezenas de bilhões de reais as nossas linhas de capital de giro. R$ 50 bilhões com tranquilidade”, afirmou. “São R$ 50 bilhões extras, já tínhamos expectativa de R$ 100 bilhões [para o ano], então aumentou 50%. Mas isso não é nem por demanda. É preventivo”, completou. Ele acrescentou que o volume pode ir além disso, caso necessário.
No início da semana, a Caixa e o Banco do Brasil já deixaram claro que estavam prontos para colocar recursos para seus clientes, caso houvesse necessidade por parte deles. Na ocasião, porém, não foram falados de valores que seriam ofertados.
O movimento dos bancos, agora mais claramente detalhado na Caixa, é a primeira ação de política econômica para enfrentamento dos impactos do agravamento da crise do coronavírus sobre a economia brasileira.
O governo tem sido cobrado, em especial pelo Congresso Nacional, para que tenha uma reação mais firme para enfrentar a crise econômica que se desenha. Anteontem, o governo já rebaixou sua expectativa oficial de crescimento para 2,1%, e a equipe econômica tem buscado encontrar medidas de curto prazo que não mexam com o teto de gastos.
Diante da piora na situação da epidemia mundial, Guimarães disse que na semana que vem a Caixa deve colocar sistema de “home office” (trabalho em casa) na sede e nas filiais do banco no país. A medida não atinge as agências de início. A ideia por enquanto, nesses casos é reforçar ações preventivas e de higiene, sem prejudicar o atendimento.
Para ele, a crise atual é muito grave, mas por enquanto é financeira, de pânico e confiança, e não estrutural, da economia real. “Acho que a crise vai ser mais forte que em 2008, porque é crise de confiança, de pânico. É uma crise de expectativa financeira”, disse em evento de assinatura de contrato de parceria com a Visa na área de cartões.
“Não é a pior crise do ponto de vista de mexer com a economia real. O impacto dela no nosso balanço é zero. Em 2008, a crise foi maior na economia real. A Caixa teve perdas de bilhões no balanço naquela ocasião. Agora, zero”, afirmou Guimarães.
O executivo explicou que os impactos na economia real dependerão de quanto tempo a crise financeira vai durar. “A grande questão é: ela vai continuar ou não? A cada momento que ela continue, vai gerar mais desaceleração. Mas ela está gerando algum tipo de penalização do balanço? Zero”, comentou o presidente do banco estatal. “Se tiver algo que dure de seis meses a um ano, tem um problema maior. O Brasil é uma economia mais fechada.”
Guimarães disse que tem um excesso de caixa da ordem de R$ 300 bilhões, o que permite colocar à disposição os recursos de capital de giro. “A Caixa é o banco com maior liquidez e solidez pelos índices de do Banco Central”, afirmou o executivo.
O presidente do banco salientou que a ideia é não emprestar para clientes que não estejam no foco da Caixa, atualmente em habitação, infraestrutura, micro e pequenas empresas e pessoas físicas, como crédito consignado.
“Não vamos emprestar para quem não é o foco. Para micro, pequenas e médias empresas, emprestaremos para qualquer empresa. Para grande empresa, não. Aí nosso foco é imobiliário e saneamento. Se tem grande empresa que precisa de capital de giro e não tem nada a ver com a Caixa, a gente não vai fazer.”
Segundo ele, não está neste momento em discussão a redução de taxa de juros, e sim a provisão de liquidez em um momento no qual instituições financeiras tendem a reduzir suas linhas de crédito. “Uma vantagem da Caixa é que temos poucos segmentos e conhecemos bem as empresas onde atuamos”, disse Guimarães.